Resumo A partir de uma perspectiva da Economia Política, o artigo analisa os governos de Lula e Dilma Rousseff, enfocando o relacionamento entre a política macroeconômica e seus condicionantes políticos, econômicos e sociais. Mostra que tais governos executaram com relativo êxito um projeto de redistribuição de renda, porém, ao contrário de parte da literatura, defende que os mesmos não podem ser caracterizados, a rigor, nem como neoliberais ou, tampouco, como desenvolvimentistas. Defende, ainda, a hipótese de que a “nova matriz macroeconômica” do governo Rousseff representou mais do que mera alteração na política econômica: constituiu-se em ponto de inflexão nos governos petistas, pois significou o desfazimento de umpacto de coalizão de classesfirmado por Lula com segmentos empresariais, o qual os respaldava desde a “Carta ao Povo Brasileiro” (2002). A partir de 2008, a crise econômica internacional, o processo de desindustrialização em marcha e um conjunto de condições permissivas evidenciaram os limites da coalizão em vigor, dificultando a continuidade do projeto redistributivo.
Abstract From a political economy perspective, this paper analyzes the Lula and Rousseff administrations in Brazil, focusing on the relationship between macroeconomic policy and its political, economic and social constraints. It shows that both administrations implemented relatively successful projects of income redistribution. However, contradicting part of the literature, the paper advocates that they cannot be characterized as neoliberal nor developmentalist. It also advocates that the “new macroeconomic matrix”, set forward by the Rousseff administration, represented more than a mere change in economic policy: it constituted an inflection point in the Workers’ Party (PT) administrations, since it meant the undoing of a “classes coalition pact” agreed between Lula and businesses segments, which supported PT’s governments since the “Letter to the Brazilian People” (2002). As of 2008, the conjunction of a world economic crises, ongoing deindustrialization and a set of permissive conditions exposed the limits of the coalition in force, hindering the continuity of the redistributive project.