Resumo Se o homem pós-moderno parece estar renunciando às virtudes antigas, em benefício das vantagens pessoais, para o Lacan de 1968, seria o esvanecimento da vergonha que abriu as portas para a conversão de qualquer dignidade significante em significante contábil. Assim, a sociedade se pautaria progressivamente pelas formas imaginárias de sobrevivência e/ou ilusão, conferindo um estatuto perverso, inclusive, à política, ainda que narrada pelo discurso do politicamente correto. Contudo, atualmente, despida dos álibis piedosos, restaria disseminada a identificação imaginária com as imposturas de ocasião, abolida a autoria, suprimida a honra e banida de vez a vergonha, por causa do poder e da avidez, como nos antecipou ficcionalmente Machado de Assis, em contos como a "Teoria do medalhão" e "O espelho".
Abstract If postmodern man seems to disavow old virtues in favor of personal advantages, for Lacan, in 1968, the fading of shame would be what opened the door to converting any significant dignity into significant accounting. In this sense, society would be progressively guided by imaginary forms of survival and/or illusion, giving rise to a perverse rule, including politics, even if it is narrated through a politically correct discourse. However, currently stripped of pious alibis, the imaginary identification with the impostures of opportunity would remain widespread, abolishing authorship, suppressing honor and banishing shame at once, due to power and greed as Machado de Assis had foreshadowed through fiction in tales such as "Medallion Theory" and "The Mirror."