O fenômeno de Lúcio, variante do estado reacional hansênico tipo 2, provavelmente mediado por imunocomplexos, caracteriza-se por reação cutânea necrosante grave que ocorre principalmente em doentes portadores de hanseníase virchowiana não nodular. Os autores relatam o caso de uma paciente de 27 anos, do sexo feminino, gestante de 32 semanas, com quadro de lesões eritêmato-purpúricas nos membros, bem delimitadas, confluentes, encimadas por bolhas, algumas necróticas e ulceradas, com uma semana de evolução, acompanhadas de febre e intensa dor local. A baciloscopia da linfa evidenciou bacilos álcool-acidorresistentes formando globias, e a histopatologia da pele confirmou hanseníase virchowiana, compatível com fenômeno de Lúcio. Foi iniciada prednisona e poliquimioterapia multibacilar com rifampicina, clofazimina e sulfona, com boa evolução. A gravidez tem sido associada à elevada incidência de aparecimento dos primeiros sinais ou ao agravamento da hanseníase por alterações hormonais que levam ao desequilíbrio imunológico, sendo considerado crítico o período compreendido entre o último trimestre de gestação e os primeiros três meses da lactação, quando a imunossupressão atinge seu ápice. Apesar da recomendação de se restringir a ingestão de drogas na gestação, o tratamento da hanseníase deve ser realizado, visto que seus benefícios superam os riscos.
The Lucio's phenomenon, a type 2 reactional condition in leprosy probably mediated by immune complexes, is a severe necrotizing skin reaction that occurs mainly in patients with non-nodular lepromatous leprosy. This report presents a 27-year-old woman, in her 32nd week of pregnancy, with a one-week history of painful skin lesions in extremities, reddish-purple, sharply delineated, confluent, with bullae and occasional necrosis and ulceration. The patient also referred fever. Baciloscopy showed acid-fast bacilli and globi, and the histopathologic findings of a skin biopsy were consistent with lepromatous leprosy and Lucio's phenomenon. Prednisone and multidrug therapy with rifampin, clofazimine and dapsone were given, with remission. Pregnancy has been associated with a high incidence of first diagnosis of leprosy or with an exacerbation of symptoms in patients with the established disease because hormonal alterations cause immunological imbalance, particularly between the last three months of pregnancy and the first three months of lactation, when immunosuppression is higher. Despite the recommendation not to take drugs during pregnancy, the multidrug therapy regimen must be used, since the benefits achieved with the treatment surpass the risks.