FUNDAMENTO: As discrepâncias entre os diagnósticos clínicos e em autópsia persistem em todo o mundo. OBJETIVO: Avaliamos as autópsias em um hospital-escola para analisar a precisão dos diagnósticos cardiovasculares clínicos em comparação aos achados post-mortem. MÉTODOS: As 409 autópsias consecutivas entre 2003 e 2006 foram analisadas em um hospital terciário de São José do Rio Preto, São Paulo (SP), Brasil. A comparação dos achados cardiovasculares clínicos e patológicos foi realizada por meio da classificação de discrepâncias de Goldman. RESULTADOS: A taxa de autópsia no hospital foi de 8%. As causas cardiovasculares de óbito representavam 42,8% (175 de 409 pacientes) dos diagnósticos de autópsia. Em 98 pacientes (56%), houve discrepâncias significativas (classes I e II), o que representa uma grande proporção de diagnósticos equivocados de infarto mesentérico (84,6%), infarto agudo do miocárdio (64,7%), dissecção da aorta (64,2%) e embolia pulmonar (62,5%). Foram observadas maiores taxas de concordância para a insuficiência cardíaca congestiva (59%) e para o acidente vascular cerebral isquêmico agudo (58,8%). A idade, o sexo, o tempo de permanência e a última unidade de admissão no hospital não foram associados aos critérios de Goldman. CONCLUSÃO: As discrepâncias dos diagnósticos clínicos e em autópsia relativos à morte cardiovascular permanecem elevados no Brasil, a despeito dos recursos tecnológicos disponíveis. Além disso, nossos achados reforçam a importância do exame post-mortem como uma contribuição para a melhoria da assistência médica.
BACKGROUND: Discrepancies between clinical and autopsy diagnoses persists worldwide. OBJECTIVE: We evaluated autopsies in a university hospital in order to assess the accuracy of clinical cardiovascular diagnosis compared to postmortem findings. METHODS: Four hundred nine consecutive autopsies between 2003 and 2006 were analyzed in a tertiary-care hospital in São José do Rio Preto, SP, Brazil. The comparison of clinic-pathological cardiovascular findings was performed using Goldman's discrepancies classification. RESULTS: Autopsy rate at the hospital was 8%. Cardiovascular causes of death represented 42.8% (175 out of 409 patients) of autopsy diagnoses. In 98 (56%) patients, there were major discrepancies (class I and II), representing a large proportion of misdiagnoses for mesenteric infarction (84.6%), acute myocardial infarction (64.7%), aorta dissection (64.2%), and pulmonary embolism (62.5%). Highest concordance rates were observed in congestive heart failure (59%) and acute ischemic stroke (58.8%). Age, sex, length of stay and the last admission unit at the hospital were not associated with Goldman criteria. CONCLUSION: Clinic-autopsy discrepancies concerning cardiovascular death remain high in Brazil, despite technological resources available. Moreover, our findings reinforce the importance of postmortem examination in contributing to medical care improvement.