Introdução: A hiperplasia benigna da próstata (HBP) é uma das patologias benignas mais comuns entre os homens. O diagnóstico é essencialmente clínico, caracteriza-se pela apresentação de sintomatologia do aparelho urinário inferior (lower urinary tract symptoms (LUTS)), um dos principais motivos de consulta, com grande impacto na qualidade de vida. Como diferentes entidades clínicas podem originar LUTS, a marcha diagnóstica constitui um desafio para o médico de família. Descrição do caso: Homem de 88 anos, com antecedentes de LUTS, artrose dos joelhos, hipertensão arterial, flutter auricular, diabetes, tremor parkinsónico, insuficiência cardíaca e obesidade. Em junho de 2013, numa consulta programada, relata um quadro de LUTS com anos de evolução, com predomínio de sintomas de armazenamento como urgência miccional, polaquiúria e marcada noctúria. Refere cansaço progressivo com vários anos de evolução e dispneia para médios esforços. Após introdução e otimização de terapêutica para os LUTS e para a insuficiência cardíaca, o doente mantém alguma resistência na toma do diurético por intensificar os sintomas urinários. Em outubro de 2014, por apresentar sintomas refratários à terapêutica instituída para a HBP, é referenciado à consulta de urologia na qual se realiza o diagnóstico de estenose uretral. Comentário: A sintomatologia urinária pouco característica que o doente apresentava, a inexistência de alterações nos exames complementares de diagnóstico que sugerissem estenose uretral e a presença de vários fatores de confundimento (patologia cardíaca, diabetes e resistência na toma de diurético) contribuíram para a baixa suspeição desse diagnóstico. Contudo, a valorização das queixas do doente e uma monitorização dos sintomas ao longo do tempo foram a chave para uma adequada orientação diagnóstica e terapêutica, permitindo obter um melhor controlo global das queixas do doente.
Introduction: Benign prostatic hyperplasia (BHP) is one of the most prevalent benign disorders in men. The diagnosis is essentially clinic and typically characterized by low urinary tract symptoms (LUTS), a frequent cause of clinical consultation with a significant impact on quality of life. However, as LUTS can have many etiologies, the journey to the final diagnosis can be a challenge for the family doctor. Case report: An 88 year-old male, with a previous history of BHP, knees osteoarthritis, arterial hypertension, atrial flutter, diabetes, parkinsonian tremor, heart failure and obesity. In June 2013, the patient reports a history of LUTS with years of evolution, with predominantly urine storage symptoms such as urgency, increased urinary frequency and a marked noctúria. He complains of progressive fatigue with years of evolution and dyspnea on moderate exertion. After introduction and optimization of therapy directed to BHP and heart failure, the patient kept avoiding the diuretic because it intensifies the urinary symptoms. In October 2014 after presenting failure of urinary symptom control despite therapy, the patient was referred to an urologist where the diagnosis of urethral stricture was made. Comment: The unusual urinary symptoms that the patient had, the inexistence of abnormal complementary tests results suggesting urethral stricture and the presence of several confounding factors (heart disease, diabetes and resistance in taking diuretic) contributed to the low suspicion of this diagnosis. However, the valorization of patient's complaints and a systematic monitoring of patient's symptoms over time were the key to the diagnosis and therapeutic choice in order to manage a better control of the patient's complaints.