RESUMO Este artigo aborda a crônica “Uns índios (sua fala)”, publicada por Guimarães Rosa no jornal A manhã em 1954. Nessa crônica, o escritor relata o seu encontro, no estado de Mato Grosso, com índios Terenos - sua expedição a um “arranchamento de ‘dissidentes’” à procura de alguns segredos da surpreendente língua tariana. Como a crônica permite inferir, o fato de essa fala parecer ininteligível é um efeito da intervenção daquele que pretende catalogá-la ou capturá-la num dispositivo de escritura, e as identidades “índio” e “branco” são efeitos produzidos escrituralmente, assim como as distinções entre “civilização” e “barbárie”. Este artigo tentará evidenciar como essa crônica recolhe alguns dos aspectos que exigem reformular o famigerado caráter documental do corpus Guimarães Rosa, assim como modificar alguns dos pressupostos dos nossos instrumentos de leitura, geralmente cativos de um imperativo representacional.
ABSTRACT This work examines the chronicle “Uns índios (sua fala)”, published by Guimarães Rosa in the journal A manhã (1954). In this chronicle, the writer recounts his encounter, in the state of Mato Grosso, with Tereno Indians, and his expedition to an indigenous camp in search of some secrets of the surprising Tariano language. As the chronicle implies, the seeming unintelligibility of the Tariano language is an effect of the intervention of those who want to catalog it or capture it in a writing device, and the "Indian" and "White" identities are effects produced in writing, as are the distinctions between "civilization" and "barbarism". This paper will attempt to demonstrate how this chronicle reflects some of the aspects that require reformulating the renowned documentary nature of the Guimarães Rosa corpus, as well as modifying some of the presuppositions of our reading instruments, which are generally held captive by a representational imperative.
RESUMEN Este trabajo aborda la crónica “Uns índios (sua fala)”, publicada por Guimarães Rosa en el periódico A manhã en 1954. En esa crónica, el escritor relata su encuentro, en el estado de Mato Grosso, con indios Terenos, su expedición a un campamento indígena en busca de algunos secretos de la sorprendente lengua tariana. Como la crónica permite inferir, el que ese habla parezca ininteligible es un efecto de la intervención de aquel que quiere catalogarla o capturarla en un dispositivo de escritura, y las identidades “indio” y “blanco” son efectos producidos escrituralmente, así como las distinciones entre “civilización” y “barbarie”. Este trabajo intentará mostrar la manera en que esa crónica recoge algunos de los aspectos que exigen reformular el afamado carácter documental del corpus Guimarães Rosa, así como modificar algunos de los presupuestos de nuestros instrumentos de lectura, generalmente cautivos de un imperativo representacional.