Resumo Neste estudo levantamos e analisamos 300 projetos relacionados à biodiversidade marinha financiados pela FAPESP entre 1972 a 2021, dos quais 46 foram realizados no Programa BIOTA. De um projeto único na década de 1970, o número foi aumentando gradativamente até 2009, quando o BIOTA promoveu uma chamada sobre biodiversidade marinha, o que impulsionou o número de projetos financiados nos anos seguintes. A abrangência geográfica dos projetos se expandiu ao longo dos anos e, a partir de estudos baseados no litoral do Estado de São Paulo, o foco gradualmente se deslocou para áreas mais amplas da costa brasileira, depois para outras áreas do Atlântico, e acabou se tornando global. A maioria dos projetos se concentrou em organismos costeiros, bentônicos, em substrato consolidado. Em termos de táxons, seis grupos responderam por cerca de 60% dos projetos (Crustacea, Actinopterygii, Mollusca, Chondrichthyes, Cnidaria e Rhodophyta), mas observa-se um aumento no número de grupos estudados ao longo das décadas. Os 300 projetos referem-se a um conjunto de 82 temas diferentes, dos quais os cinco principais são taxonomia, filogenia, comunidade, “ômicas” e poluição. As análises mostram um esforço de longa data em pesquisas de biodiversidade marinha, com abordagens atualizadas em relação ao escopo e métodos. A pesquisa em áreas estratégicas é discutida, incluindo os estudos sobre a microbiota marinha e em águas profundas. As mudanças climáticas e a crescente pressão da atividade humana sobre o oceano, incluindo poluição, acidificação e espécies invasoras, estão entre os principais desafios para o futuro. Projetos de produção e uso de dados de pesquisa básica de forma integrada e transdisciplinar oferecem múltiplas perspectivas de compreensão das mudanças no funcionamento dos ecossistemas e, consequentemente, são essenciais para subsidiar políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade marinha em diferentes escalas. A Década do Oceano da UNESCO (a partir de 2021) é uma janela de oportunidade para fortalecer a pesquisa marinha, promover a colaboração nacional e internacional, construir redes envolvendo os setores público e privado, mas principalmente para chamar a atenção da sociedade para a importância de conhecer os ambientes marinhos e utilizar os recursos oceânicos de forma sustentável. O avanço da “alfabetização” oceânica é um dos principais legados para as gerações futuras promovidos por programas integrados de pesquisa como o BIOTA-FAPESP.
Abstract In this study we survey and analyze 300 projects related to marine biodiversity funded by FAPESP from 1972 to 2021, of which 46 were nested in the BIOTA Program. From a unique project in the 1970’s, the number gradually increased until 2009, when BIOTA promoted a call on marine biodiversity, which led to a boost in the number of funded projects in the subsequent years. The geographical range of the projects expanded over the years and, from studies based on the coast of São Paulo State, the focus gradually shifted to broader areas of the Brazilian coast, then to other areas of the Atlantic, and eventually became global. The majority of projects focused on coastal benthic organisms living on hard-bottom. In terms of taxa, six groups accounted for about 60% of the projects (viz. Crustacea, Actinopterygii, Mollusca, Chondrichthyes, Cnidaria, and Rhodophyta), but it is observed an increase in the number of groups studied over the decades. The 300 projects refer to a set of 82 different topics, of which the top five are taxonomy, phylogeny, community, “omics”, and pollution. The analyses show a long-standing effort in marine biodiversity surveys, with ongoing updated approaches regarding scope and methods. Research on strategic areas is discussed, including deep-sea and marine microbiota. Climate change and the increasing pressure of human activity on the ocean, including pollution, acidification and invasive species, are among the main challenges for the future. Projects producing and using basic research data in an integrative and transdisciplinary way offer multiple perspectives in understanding changes in ecosystem functioning and, consequently, are essential to support public policies for the conservation and sustainable use of marine biodiversity at different scales. UNESCO’s Decade of Ocean (starting 2021) is a window of opportunity to strengthen marine research, to promote national and international collaboration, to build up networks involving the public and private sector, but particularly to draw society’s attention to the importance of knowing marine environments and using ocean resources in a sustainable way. The advancement of ocean literacy is one of the main legacies for future generations promoted by integrated research programs such as BIOTA-FAPESP.