Resumo A cidade de São José dos Campos, situada no Vale do Paraíba paulista, tornou-se polo industrial e tecnológico na década de 1960, quando deixou de ser estância climática destinada ao tratamento de tuberculosos. As transformações do bairro de Santana, localizado na região norte, caracterizado como primeiro bairro industrial da cidade, tornaram-se importantes para compreender a construção do mito da andarilha Maria Peregrina. Ela era uma indigente sem registro histórico que perambulou pelo bairro de Santana, entre as décadas de 1940 e 1960, e marcou significativamente a memória dos moradores. Sem provas de sua existência, busca-se entender como a andarilha passou a ser referência para o bairro e em que momento isso ocorreu. Esse estudo baseia-se na metodologia da geografia histórica, segundo proposta de Braudel, que propõe o diálogo entre as duas áreas do conhecimento, compreendendo as dimensões tempo, sujeito e espaço. Nas décadas de 1960 e 1970, o bairro de Santana, antigo espaço de morada da Peregrina, perdeu, paulatinamente, o status de bairro industrial. Nesse contexto de perda da hegemonia do bairro e transformação do espaço urbano é que o mito da andarilha Maria Peregrina cresceu entre os moradores, como forma de coesão social e reconstrução da identidade do bairro.
Abstract The city of São José dos Campos, located in the Region of Vale do Paraíba, state of São Paulo, became an industrial and technological pole since 1960’s, when the city ceased to be a climatic sanatorium for the treatment of tuberculosis. The changings on the district of Santana, located in the North region of the city, that is characterized as the first industrial area of the city, became important to understand the myth of the wanderer Maria Peregrina. She was an indigent who ramble around Santana, and marked expressively the memory of the residents of this neighborhood. Without evidence of her existence, it is hard to understand how the wanderer became a reference to the neighborhood and at what time it happened. This study is based on the methodology of historical geography, as proposed by Braudel, suggesting the dialogue between the two areas of knowledge, considering time, subject and space dimensions. The district of Santana gradually missed its status of industrial neighborhood, during 1960’s and 1970’s. In this context of losing its hegemony as an industrial district and transformation of urban space that the myth of the wanderer Maria Peregrina grew among residents as a form of social cohesion and reconstruction of the identity of the neighborhood.