RESUMO Neste estudo problematizamos a visão de criticidade em um livro didático de inglês para o primeiro ano do Ensino Médio, pertencente a uma coleção aprovada pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático 2018 (PNLD) e apontamos formas de preencher lacunas em tal material através de sugestões para uma formação de professores realmente crítica e antirracista. Alinhadas a uma abordagem pedagógica de letramento queer (LIN, 2014) e de letramento crítico racial (FERREIRA, 2015a; 2015b), defendemos a posição de que uma prática problematizadora (PENNYCOOK, 2004) antirracista deva estar presente na formação dos professores de língua, além de manuais e orientações elaborados para os docentes de inglês. Neste sentido, a perspectiva de “crítico” por nós adotada procura motivar o questionamento e estranhamento (LIN, 2014) dos discursos naturalizados, levando-se em consideração questões de acesso, poder, diferença, desigualdade e resistência (PENNYCOOK, 2004). Analisamos a primeira unidade do livro, intitulada “Who am I?” e voltada para aspectos referentes à identidade, e a fundamentação teórica do material didático, juntamente com as orientações dadas aos/às professores(as) para a abordagem das atividades de tal unidade. As considerações que fazemos ao final da análise apontam para a necessidade de uma formação docente que possa complementar o material e, dessa forma, ir além das sugestões das autoras para, de fato, promover práticas pedagógicas antirracistas problematizadoras, através da reflexão sobre questões identitárias de caráter interseccional e decolonial, pois neste caso, e possivelmente em outros, as orientações elaboradas para os docentes no material didático não problematizam tais aspectos, sinalizando a ausência de questionamentos que levem à uma agenda transformadora.
ABSTRACT In this study we problematize the understanding of what is considered critical by the authors of a first grade of high school textbook approved by a committee for the distribution in Brazil. We also point ways of filling the gaps in said document. In line with a pedagogical approach towards queer literacy (LIN, 2014) and racial critical literacy (FERREIRA, 2015a, 2015b), we claim anti-racist problematizing practices (PENNYCOOK, 2004) must be included in language teachers’ education as well as in learning materials. Thus, our perspective on what is critical wishes to motivate questioning and “queering” (LIN, 2014) naturalized discourses considering relations of access, power, difference, inequality and resistance (PENNYCOOK, 2004). We analyzed the book’s unit named “Who am I?” which focuses on matters of identity, as well as the theoretical framework and guidelines for teachers. Our considerations point to the need for a curriculum that will fill in the gaps in learning materials for schools so teachers may go beyond the suggestions to actually promote anti-racist pedagogical practices, through reflecting about identity processes in an intersectional and decolonial perspective. In this case, and possibly others, the guidelines for teachers in the set do not problematize those aspects, which shows lack of questioning for a transformative agenda.