Resumo Este ensaio enfoca a associação, iluminada pela noção de ritual, entre os afetos, a expressão obrigatória dos sentimentos e a experiência social dos grupos envolvidos na produção anual do festival dos Bumbás de Parintins, Amazonas. A noção de ritual, apreendida etnograficamente, conduz a análise da acentuada rivalidade entre os dois grupos de Bumbás que caracteriza o festival e sua preparação. Essa rivalidade é enfocada como uma produção ritual contínua em que a noção nativa de brincadeira ganha especial destaque como laço a unir os dados etnográficos à elaboração conceitual dessa mesma noção - brincadeira - que traz consigo o tema da ambivalência tão característico das trocas agonísticas. A preparação festiva engendra, a partir de inúmeros tabus, evitações, provocações e confrontos, a crescente rivalidade entre os dois grupos brincantes, que se transmuta em expressão artística plena na arena do Bumbódromo. Ali, o almejado esplendor das performances é estimulado pelo desejo obsessivo de superação e derrota do "contrário". O argumento se conclui com a análise do trabalho do rito que, ao produzir abertamente a exacerbação da rivalidade, promove mais silenciosamente a necessária complementariedade e o reconhecimento pleno do outro que funda a possibilidade da brincadeira e torna-a real no ritual festivo.
Abstract Taking the notion of ritual as a guideline, this essay focuses on the association between affections, the obligatory expression of feelings and the social experience of the groups involved in the annual production of the Ox Dance festival in Parintins, Amazonas. Apprehended from an ethnographic standpoint, the notion of ritual leads to the analysis of the remarkable rivalry between the two groups of Bumbás that characterizes the festive ambiance. This rivalry is understood as a continuous ritual production and the native notion of play (brincadeira) gains special prominence as a link that unites the ethnographic data to the conceptual elaboration of the very same notion of play which conveys the ambivalence characteristic of agonistic exchanges. The festive preparation generates, by means of innumerable taboos, provocations and confrontations, the growing rivalry between the two playful groups, which transmutes into full artistic expression in the festive arena. There, the sought-after splendor of the performances is stimulated by the obsessive desire to overcome and defeat the "contrary". The article concludes with an analysis of the rite which, by openly producing the exacerbation of rivalry, surreptitiously promotes the necessary complementarity and full recognition of the other, which establishes the possibility of play and makes it real in the festive ritual.
Resumen Este ensayo enfoca la asociación, iluminada por la noción de ritual, entre los afectos, la expresión obligatoria de los sentimientos y la experiencia social de los grupos que participan de la producción anual del festival de los Bumbás de Parintins, Amazonas. La noción de ritual, aprehendida etnográficamente, conduce el análisis de la acentuada rivalidad expresa entre los dos Bumbás característica del festival y de su preparación. Esta rivalidad es enfocada como una producción ritual continua en que la noción nativa de juego gana especial destaque como lazo que une los datos etnográficos a la elaboración conceptual de esa misma noción - juego - que trae consigo el tema de la ambivalencia tan característica de los intercambios sociales agonísticos. La preparación festiva produce, a partir de innumerables tabúes, evitaciones, provocaciones y enfrentamientos, la creciente rivalidad entre los dos grupos, que se transmuta en expresión artística plena en la arena del Bumbódromo. Allí, el anhelado esplendor de las performances es estimulado por el deseo obsesivo de superación y derrota del "contrario". El argumento se concluye con el análisis del trabajo ritual que, al producir abiertamente la exacerbación de la rivalidad, aumenta silenciosamente la necesaria complementariedad y el reconocimiento pleno del otro que funda la posibilidad del juego y la vuelve real en el ritual festivo.