O artigo analisa as proposições teóricas do individualismo metodológico de Raymond Boudon, que procura desvincular-se de perspectivas que ressaltam a concepção de racionalidade instrumental, como o entendimento da escolha racional. As diferenças entre a conduta instrumental e a idéia de racionalidade cognitiva propostas pelo sociólogo envolvem temas centrais da reflexão social atual, principalmente possíveis vínculos problemáticos entre a tradição sociológica e certa ontologia econômica. Para mostrar a particularidade do individualismo metodológico de Boudon e sua noção de racionalidade cognitiva, exponho, primeiramente, as suas principais críticas ao paradigma instrumental. Posteriormente, debato as alternativas sugeridas por Boudon, principalmente a idéia de que os agentes incorporam crenças ou teorias simplesmente porque têm "boas razões" e a sua noção de uma "racionalização difusa". Finalmente, procuro analisar de que forma a teoria do autor francês aponta falhas da visão economicista de racionalidade, embora apresente algumas proposições imprecisas. Assim, ao mesmo tempo em que assinala importante falta de conexão entre a agência individual e o contexto social na teoria da escolha racional, Boudon elabora uma concepção universalista de racionalidade que parece não observar fundamentos circunstanciais e delimitados da realidade social.
This article analyzes the theoretical propositions of Raymond Boudon's methodological individualism, which seeks to disassociate itself from perspectives that emphasize the notion of instrumental rationality such as understandings of rational choice. Differences between instrumental conduct and the idea of cognitive rationality proposed by this sociologist hark back to central themes of contemporary social reflection, most specifically the possibly problematic ties between the sociological tradition and a certain economic ontology. To reveal the particularities of Boudon's methodological individualism as well as his notion of cognitive rationality, I first expound on his major critiques of the instrumental paradigm. I then go on to debate the alternatives he suggests, particularly the notion that agents incorporate beliefs or theories simply because they have "good reasons" to do so, as well as his notion of "diffuse rationalization". Finally I seek to analyze the way in which this French author's theory points to flaws in the economistic view of rationality, although presenting some propositions that are lacking in precision. Thus, while he signals the important lack of connection between individual agency and social context that inheres within rational choice theory, Boudon elaborates a universalist conception of rationality that seems to overlook the circumstantial and defined bases of social reality.
L'article analyse les propositions théoriques de l'individualisme méthodologique de Raymond Boudon, qui cherche à s'extirper des perspectives qui mettent l'accent sur la conception de "rationalité instrumentale", comme la compréhension du choix rationnel. Les différences entre la conduite instrumentale et l'idée de rationalité cognitive proposées par le sociologue, impliquent des thèmes centraux de la réflexion sociale actuelle, principalement des possibles liaisons problématiques entre la tradition sociologique et certaine ontologie économique. Pour montrer la particularité de l'individualisme méthodologique de Boudon et sa notion de rationalité cognitive, j'expose premièrement ses principales critiques au paradigme instrumental. Ultérieurement, je discute les alternatives suggérées par Boudon, principalement l'idée que les agents intègrent des croyances ou des théories simplement parce qu'ils ont "des bonnes raisons", et leur notion d'une "rationalisation diffuse". Finalement, je cherche analyser de quelle façon la théorie de l'auteur français pointe des failles de la vision économiste de rationalité, bien qu'il présente quelques propositions inexactes. Ainsi, au même temps qu'il signale un manque important de connexion entre l'agence individuelle et le contexte social dans la théorie du choix rationnel, Boudon élabore une conception universaliste de rationalité qui ne semble pas observer les fondements de circonstance et aussi délimités de la réalité sociale.