Este estudo foi realizado para obter a linha de base da epidemiologia da Leishmaniose Visceral Americana e da Doença de Chagas numa comunidade indígena, onde o governo está desenvolvendo um programa de melhoramento da habitação. A coleta de dados referentes aos fatores sócio-econômicos e do meio ambiente associados ao risco de transmissão de Leishmania chagasi e Trypanosoma cruzi foi feita por meio de respostas a questionário endereçado aos componentes acima mencionados. O inquérito foi realizado em 242 unidades domiciliárias (1440 indivíduos). Foi realizada a prova de Montenegro em 385 indivíduos e colhidas 454 amostras de sangue em papel de filtro, para pesquisar o teor de anticorpos contra L. chagasi por meio das técnicas de ELISA e IFI e o teor de anticorpos contra T. cruzi por meio de ELISA. A prevalência sorológica foi de 8,7% para T. cruzi, 4,6% e 5,1% para L. chagasi por meio de IFI e ELISA, respectivamente. Ao se comparar estas duas provas foi encontrado que por meio de ELISA a sensibilidade e especificidade para detecção de anticorpos contra L. chagasi foi de 57% e 97% respectivamente. Os resultados da intradermo-reação de Montenegro revelaram uma positividade de 19%. Os resultados dos três testes de imunodiagnóstico mostraram uma prevalência da infecção por L. chagasi de 17,1%. Além disso, 2,7% da população estudada apresentou reações sorológicas positivas para os dois parasitos, evidenciando uma possível reação cruzada. A soropositividade para L. chagasi e T. cruzi aumentou com a idade, e não houve associação com o gênero. Idade (p<0,007), número de moradores (p<0,05), tipo de piso (p<0,03) e o reconhecimento do vetor (p<0,01) foram associados com a infecção por T. cruzi. Entretanto, na infecção por L. chagasi foi encontrada associação com a idade (p<0,007) e o melhoramento da habitação (p<0,02). Recomenda-se avaliar o impacto do programa de melhoramento da habitação sobre estas infecções parasitárias nesta comunidade num prazo longo.
This study was carried out in order to obtain base-line data concerning the epidemiology of American Visceral Leishmaniasis and Chagas’ Disease in an indigenous population with whom the government is starting a dwelling improvement programme. Information was collected from 242 dwellings (1,440 people), by means of house to house interviews about socio-economic and environmental factors associated with Leishmania chagasi and Trypanosoma cruzi transmission risk. A leishmanin skin test was applied to 385 people and 454 blood samples were collected on filter paper in order to detect L. chagasi antibodies by ELISA and IFAT and T. cruzi antibodies by ELISA. T. cruzi seroprevalence was 8.7% by ELISA, L. chagasi was 4.6% and 5.1% by IFAT and ELISA, respectively. ELISA sensitivity and specificity for L. chagasi antibodies were 57% and 97.5% respectively, as compared to the IFAT. Leishmanin skin test positivity was 19%. L. chagasi infection prevalence, being defined as a positive result in the three-immunodiagnostic tests, was 17.1%. Additionally, 2.7% of the population studied was positive to both L. chagasi and T. cruzi, showing a possible cross-reaction. L. chagasi and T. cruzi seropositivity increased with age, while no association with gender was observed. Age (p<0.007), number of inhabitants (p<0.05), floor material (p<0.03) and recognition of vector (p<0.01) were associated with T. cruzi infection, whilst age ( p<0.007) and dwelling improvement (p<0.02) were associated with L. chagasi infection. It is necessary to evaluate the long-term impact of the dwelling improvement programme on these parasitic infections in this community.