A observação de um episódio de cuidado entre duas crianças de menos de 18 meses de idade desencadeou uma refl exão sobre a ontogênese da empatia. Descreve-se o episódio e apontam-se questões teóricas que ele suscita a respeito de concepções sobre a criança e o processo de desenvolvimento, e sobre a ontogênese da comunicação e da vida cultural. A seguir, revê-se, desse ângulo, a literatura sobre desenvolvimento sócioafetivo e cognitivo no primeiro ano de vida, a partir das perspectivas psicoetológica e sócio-construtivista, com alguma ênfase na contribuição de Henri Wallon, focalizando três conceitos: intersubjetividade, empatia e imitação. Essa literatura retrata o neonato humano como um ser biologicamente organizado para a vida sócio-cultural, na qual está imerso desde o nascimento - ou até mesmo desde a concepção - por meio de sua pré-organização para o encontro com o outro e para a troca social, condições constitutivas de seu desenvolvimento individual.
The observation of a caretaking episode among two children aged 9 and 18 months has launched a reflection on the ontogeny of empathy. In this paper, this episode is described and some theoretical questions it evoked are raised, regarding conceptions about children and development, ontogeny of communication and cultural life. Subsequently, the literature on socio-affective and cognitive development in the first year of life is reviewed from the psychoethological and socioconstructivist perspectives, placing some emphasis on Henri Wallon’s contribution. Three concepts are highlighted: intersubjectivity, empathy and imitation. This literature depicts the human neonate as an organism which is biologically organized for socio-cultural life since birth, or even from the moment of conception, through its pre-adaptedness for encounters with other human beings and for social exchanges, which are constitutive conditions of individual development.
L’observation d’un épisode de soin entre deux enfants de moins de dix-huit mois est à l’origine d’une réfl exion sur l’ontogenèse de l’empathie. L’épisode est décrit et, à la suite, on pose des questions théoriques relatives à certaines conceptions sur l’enfant et son processus de développement, ainsi que sur l’ontogenèse de la communication et de la vie culturelle. Sous cet angle, on propose une revue de la littérature consacrée au développement socio-affectif et cognitif au cours de la première année de vie, à travers une perspective psycho-éthologique et socio-constructiviste, en soulignant la contribution d’Henri Wallon, en particulier trois concepts: l’intersubjectivité, l’empathie et l’imitation. Cette littérature dépeint le nouveau-né humain comme un être biologiquement organisé pour la vie socio-culturelle, dans laquelle il est plongé depuis sa naissance - ou même depuis la conception - grâce à sa pré-organisation pour la rencontre avec l’autre et pour les échanges sociaux, conditions constitutives de son développement individuel.