RESUMO O objetivo deste trabalho é propor uma reflexão crítica acerca do papel da branquitude na produção de saberes acadêmicos na Linguística Aplicada Crítica, consonante com seu horizonte de justiça social, ao se ocupar de fenômenos sociais em que a linguagem enquanto sociossemiose tem papel fundamental. Apoiada no paradigma simultaneamente decolonial (CURIEL, 2017) e interseccional (COLLINS, 1990), defendo sua vocação necessariamente antirracista, no contexto dos embates contra-hegemônicos de uma academia entendida como instanciação do mundo "cubo-branco" (KILOMBA, 2019), para configurar a área como efetivamente crítica, a partir da consolidação de uma epistemologia antirracista que atravesse o campo. Nesse sentido, destaco a necessidade de escrutínio da branquitude enquanto conjunto de práticas sociais (CONCEIÇÃO, 2020), refletindo sobre performances raciais (MELO, 2018) da branquitude crítica (CARDOSO, 2017) na academia. Tendo como pressuposto o caráter crítico-reflexivo da pesquisa em si (DE FINA, 2015), destaco a pertinência da escuta ativa e de processos de autoescuta, em que há a possibilidade de "se ouvir escutando" (SOUZA, 2011), a fim de driblar a transparência de ideologias racistas da branquitude performadas discursivamente por analistas brancos, brancas e branques em seu silêncio performativo de racismo (BENTO, 2002). Trazendo a ideia de transformação social para dentro do próprio campo, proponho pensar o "estudo" (HARNEY) MOTEN, 2013), uma forma de oposição à produção de conhecimento, que é expoente de um fazer acadêmico colonial e colonizado, em consonância com a performatividade afetiva do "sentir crítico", para articular novos modos de ser, estar, agir e sentir no/ com o mundo (BORGES, 2017a).
ABSTRACT The aim of this paper is to propose a critical reflection on the role of whiteness in the production of academic knowledge in Critical Applied Linguistics, in line with its horizon of social justice when dealing with social phenomena in which language as a sociosemiosis plays a fundamental role. Simultaneously decolonial (CURIEL, 2017) and intersectional (COLLINS, 1990), I defend its consequently antiracist drive, within counter-hegemonic struggles in Academia as the instantiation of the "white-cube" (KILOMBA, 2019) in order to make the area rather critical by the consolidation of an antiracist epistemology across the field. In this sense, I highlight the need to scrutinize whiteness as a set of social practices (CONCEIÇÃO, 2020), reflecting on racial performances (MELO, 2018) of critical whiteness (CARDOSO, 2017) in academia. Assuming the critical-reflexive character of the research itself (DE FINA, 2015), I emphasize the relevance of active listening and processes of self-listening, where there is the possibility of "hearing yourself listening" (SOUZA, 2011), in order to bypass the transparency of racist ideologies of whiteness performed discursively by white analysts in their silence which is performative of racism (BENTO, 2002). Turning the idea of social transformation to the field itself, I propose to think of "study" (HARNEY) MOTEN, 2013), a way to oppose knowledge production as an exponent of a colonial and colonized academic doing, thinking also of the affective performativity of "critical feeling" to articulate new ways of being, acting and feeling in/ with the world (BORGES, 2017a).