A ideia de representação argumentativa constitui resposta recente à objeção democrática ao papel político exercido por tribunais constitucionais. A tese defende que o juiz pode ser concebido como um representante popular, com legitimidade democrática tão sólida quanto os funcionários eleitos do Legislativo ou do Executivo. Cuida-se de movimento que participa do contexto teórico de expansão dos sentidos da representação para instâncias não-eleitorais, como instituições participativas da sociedade civil, conselhos ou movimentos sociais. Neste artigo, colocamos em escrutínio essa construção teórica, bem como apontamos os problemas associados à sua incorporação em votos e escritos de ministros do Supremo Tribunal Federal. Concluímos que o argumento padece de fragilidades insuperáveis associadas à crença exacerbada no potencial deliberativo de tribunais, à ausência de mecanismos de aproximação entre pretensos representantes e seus representados e à ausência de mecanismos efetivos de accountability. Além disso, indicamos como a tese pode ser manejada para fins de blindagem discursiva de decisões politicamente salientes e controversas. Reforçamos, assim, o caráter elitista dessa tentativa, que exacerba o isolamento da corte em relação a seus ditos representados e firma um distanciamento crescente do núcleo essencialmente democrático da soberania enquanto exercício popular do poder político.
The idea of argumentative representation constitutes a recent response to the democratic objection against the political role of constitutional courts. The thesis sustains that the judge can be conceived as a popular representative, holding democratic legitimacy equivalent to elected officials of the legislative or the executive branches. It flourishes in the theoretical context of expansion of the senses of representation to non-electoral instances, such as participatory institutions of civil society, councils, or social movements. In this article, we put this theoretical construction under scrutiny, as well as point out the problems associated with its incorporation in opinions and academic writings of justices of the Brazilian Supreme Court. We argue that the argument is flawed due to an exaggerated belief in the deliberative potential of courts, the absence of approximation mechanisms between would-be representatives and their constituents, and the absence of effective accountability mechanisms. Besides, we point out how the thesis can be used as a rhetoric tool for shielding politically salient and controversial decisions. We thus reinforce the elitist character of this attempt, which exacerbates the isolation of the court from its represented and establishes a growing detachment from the inherently democratic core of sovereignty as a popular exercise of political power.
L’idée d’une représentation argumentative constitue une réponse récente à l’objection démocratique au rôle politique joué par les cours constitutionnelles. La thèse soutient que le juge peut être conçu comme un représentant populaire doté d’une légitimité démocratique aussi solide que les représentants élus du pouvoir législatif ou les fonctionnaires du pouvoir exécutif. C’est un mouvement qui participe du contexte théorique d’élargissement du sens de la représentation à des instances non électorales, telles que des institutions participatives de la société civile, des conseils ou des mouvements sociaux. Dans cet article, nous examinons attentivement cette construction théorique et soulignons les problèmes liés à son incorporation dans les votes et les écrits des ministres de la Cour suprême brésilienne. Nous concluons que l’argument souffre de faiblesses insurmontables liées à la croyance exagérée dans le potentiel délibératif des tribunaux, à l’absence de mécanismes de rapprochement entre les représentants potentiels et leurs représentés et à l’absence de mécanismes efficaces de responsabilité. En outre, nous indiquons de quelle manière la thèse peut être gérée dans le but de protéger de manière discursive les décisions controversées et d’importance politique. Ainsi, nous renforçons le caractère élitiste de cette tentative, qui exacerbe l’isolement de la cour par rapport à ses représentés présumés et établit un détachement croissant du noyau essentiellement démocratique de la souveraineté en tant qu’exercice populaire du pouvoir politique.