TEMA:influências recíprocas entre corpo, psiquismo e linguagem. OBJETIVO: este trabalho teve por objetivo estudar as possíveis relações entre internações hospitalares e cirurgias, sofridas por crianças nos seus primeiros anos de vida, e transtornos de linguagem e psíquico subseqüentes. MÉTODO: trata-se de uma pesquisa clínico-qualitativa, de natureza descritivo/interpretativa, realizada através da análise longitudinal de dois estudos de casos clínicos de crianças pequenas, com aproximadamente três anos de idade, cujo discurso familiar apontava para queixas co-ocorrentes: cirurgias e internações hospitalares precoces (em função de desordens orgânicas) e transtornos de linguagem subseqüentes. O material clínico foi analisado numa perspectiva teórica que articula teorias fonoaudiológica e psicanalítica, a partir da prática clínico-terapêutica fonoaudiológica. RESULTADOS: em ambos os casos, os sintomas fonoaudiológicos reduziram-se progressivamente, na medida em que, os transtornos orgânicos ganharam circulação discursiva tanto no diálogo terapêutico (entre fonoaudióloga e paciente), quanto nas narrativas familiares, o que promoveu modificações/superações dos sintomas de linguagem manifestos pelos pacientes. CONCLUSÃO: o nascimento orgânico das crianças estudadas não foi concomitante ao nascimento simbólico formando-se, entre ambos, um hiato derivado da falta de compatibilidade entre o amadurecimento do esquema corporal e dos processos de subjetivação. Os efeitos simbólicos operados nos pais, em função do nascimento de um filho radicalmente diferente do desejado foi devastador, deixando-os impossibilitados de conceber os bebês simbolicamente. Passada a violência do impacto da desilusão dos pais, essas crianças permaneceram sendo lidas por eles desde a doença, o que criou transtornos em seus modos de funcionamento de linguagem e psíquico. Assim, inconscientemente, só poderiam representar os filhos desde o lugar que lhes foi originalmente destinado: o lugar da doença.
BACKGROUND: mutual influences between body, psychism and language. AIM: the purpose of this work was to analyze the possible connections between hospital internations and surgeries, to which children were submitted at their earliest life years, as well as subsequent language and psychic adversities. METHOD: it is a qualitative/clinical research, of a descriptive/interpretative nature, carried out through the longitudinal analysis of two clinical case studies with small children of approximately three years of age, whose families had co-occurrent complaints: surgeries and premature hospital internations (as a consequence of organical diseases) and subsequent language disorders. Clinical material was analyzed under a theorical perspective, articulating psychoanalytical and speech therapy theories, based on clinical practice. RESULTS: in both cases, speech therapy symptoms decreased progressively as the organic disorders gained space during therapeutic dialogues (between speech therapist and patient), as well as in home-circle narratives. This promoted modifications/surpasses of the language symptoms presented by the patients. CONCLUSION: the organic birth of the studied children was not concomitant to their symbolic birth, thus creating a gap between them. This gap is derived from the lack of compatibility between the development of corporal scheme and subjective processes. The symbolic effects suffered by parents due to the birth of children who are radically divergent from what was expected was devastating, making it impossible for parents to conceive their babies symbolically. After the violent impact of disappointment, these children remained being interpreted by their parents. This created a disturbance in the functioning of language and in the psychism of these children. Thus, unconsciously, parents were only able to represent their children based on the place that was originally given to them: the place of disease.