A maioria das informações relativas ao curso da doença de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) é restrita aos primeiros cinco anos após o diagnóstico. Entretanto, dados sobre a precocidade de instalação dos danos são pouco descritos. OBJETIVO: identificar os danos precoces de pacientes com LES de diagnóstico recente e verificar a influência da própria doença ou de sua terapêutica como principal causa para a instalação destes danos. MÉTODOS: foram estudados retrospectivamente 82 pacientes com LES, cujo diagnóstico foi realizado de 1998 até 1999 em nosso serviço. Em todos os pacientes o escore do índice de dano do Systemic Lupus Internacional Collaborating Clinics/American College of Rheumatology-Damage Index (SLICC/ACR-DI) foi avaliado no momento do diagnóstico e anualmente três vezes consecutivas. As manifestações clínicas e o esquema terapêutico foram avaliados nas consultas médicas. O escore do SLICC/ACR para cada órgão/sistema e a prevalência dos danos foi identificado, assim como a sua possível causa (doença ou terapia). RESULTADOS: A idade (média) inicial foi de 31,6 anos com predomínio do sexo feminino (94%). A maioria dos pacientes (94%) apresentou manifestações cutâneas e articulares, seguidas pelas renais (40%), pulmonares (28%) e neurológicas (18%). Ao final do estudo, 52 pacientes (63,4%) não apresentaram seqüelas (sem pontuação no SLICC). Dos 30 pacientes restantes, 16 tiveram escore = 1 e 14 pacientes apresentaram escore = 2. No total observamos 36 danos, sendo 23 atribuídos à doença e 13 à terapia (64% vs 36%, p < 0,05). Os sistemas mais freqüentemente acometidos foram o articular e o neurológico (27,7%), seguidos pelo renal (13,8%). Todos os pacientes com comprometimento neurológico tiveram danos precoces decorrentes da própria doença (apesar da terapêutica agressiva) enquanto a terapêutica com corticóide foi responsável pelos danos em 7/10 pacientes com dano articular (osteonecrose). O dano renal foi observado em 13,8% dos pacientes (nefrite grave não responsiva ao tratamento). Outros efeitos adversos da terapia foram angina, catarata, diabetes e menopausa precoce. CONCLUSÕES: este estudo sugere que o dano precoce é ainda um importante problema no LES. São necessárias estratégias eficazes no sentido de minimizar as seqüelas, com destaque para as neurológicas. Redução da morbidade associada à terapia com corticóide também deve ser considerada utilizando-se agentes poupadores de esteróides.
The majority of the information available about the disease course of patients with systemic lupus erythematosus (SLE) is restricted to the first five years after disease onset. However, data about early damage were rarely reported. OBJECTIVE: to describe the early damage outcome of SLE patients in early disease and to discriminate the influence of disease itself or its therapy as the main cause of their damage. METHODS: we retrospectively studied 82 patients with SLE, diagnosed during the period from 1998 to 1999 in our institution. In all patients the Systemic Lupus International Collaborating Clinics/American College of Rheumatology Damage Index (SLICC/ACR-DI) was scored at the diagnosis and annually for the next three years. Clinical manifestations were evaluated at each visit as well as the therapy. The SLICC/ACR-DI scores for each organ system and the prevalence of damage within organ systems were assessed, as well as its possible main cause (disease or therapy). RESULTS: the mean age at entry was 31.6 years with female predominance of 94%. The majority of the patients (94%) presented cutaneous and articular involvement, 40% renal, 28% pulmonary, and 18% neurological manifestations. At the end of the study, 52 (63.4%) patients had no damage to score with SLICC. From the remaining 30 patients, 16 had a score of 1 and 14 had a score = 2. In total, 36 damages occurred, 23 of them attributed to the disease and 13 to the therapy (64% vs. 36%; p < 0.05). The most frequently injured systems were the articular and the neurological (27.7%) ones, followed by the renal (13.8%) system. All patients with neurological involvement have early damage due to the disease itself in spite of the aggressive therapeutic whereas from 10 patients with articular damage, 70% (7) were associated with steroid therapy (osteonecrosis). In contrast, premature renal injury was observed in 13.8%, all of them with unresponsive severe nephritis. Other adverse effect of therapy included 1 angina, 2 cataracts, 1 diabetes and 2 premature menopauses. CONCLUSIONS: this study suggests that early damage is still a major problem in SLE that reinforces the need for new strategies in order to minimize injury, particularly for neurological manifestations. Moreover, it also seems important to reduce morbidity induced by corticosteroid therapy with the use of steroid-sparing agents.