CONTEXTO: A alta hospitalar precoce vem sendo responsabilizada pelo reaparecimento de casos de kernicterus, ou icterícia nuclear. Assim, pesquisas que visem o encontro de parâmetros que ajudem o neonatologista a prevenir a ocorrência de hiperbilirrubinemia grave são bem-vindas. OBJETIVO: Avaliar se os níveis de bilirrubina no funículo umbilical podem predizer a hiperbilirrubinemia neonatal que necessita de tratamento em recém-nascidos no termo até o terceiro dia de vida. TIPO DE ESTUDO: Estudo prospectivo. LOCAL: Unidade Neonatal do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, Brasil. PARTICIPANTES: 380 recém-nascidos no termo considerados normais, com ou sem incompatibilidade sangüínea materno-fetal ABO/Rh e sem nenhuma outra complicação. PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS: Amostra de sangue do funículo umbilical colhida logo após o nascimento e submetida a dosagem de bilirrubinas totais, conjugada e não conjugada. Esses recém-nascidos foram acompanhados até a alta e a ocorrência de níveis de hiperbilirrubinemia não conjugada indicativa de tratamento foi estudada em relação aos níveis do funículo umbilical. Uma análise discriminante foi utilizada para classificar os recém-nascidos em dois grupos, com e sem risco de necessitarem de fototerapia até o terceiro dia de vida (usando o programa Statistical Package for Social Science, versão 9,0) considerando-se o nível de significância menor que 5%. VARIÁVEIS ESTUDADAS: Bilirrubinas de sangue de funículo umbilical; grupo sangüíneo materno e do recém-nascido; indicações de fototerapia. RESULTADOS: O valor médio da bilirrubina não conjugada no sangue do funículo umbilical foi significativamente maior entre os recém-nascidos que atingiram níveis séricos de bilirrubina não conjugada indicativos de fototerapia. A presença de incompatibilidade sangüínea materno-fetal foi estatisticamente significativa para a ocorrência de níveis séricos de bilirrubina não conjugada indicativos de fototerapia, até o terceiro dia de vida. O ponto de corte de bilirrubina não conjugada do funículo umbilical que se mostrou mais útil foi 2.0 mg/100 ml. DISCUSSÃO: O sangue do cordão poderia ser coletado e usado para análise dos níveis de bilirrubina conjugada como uma maneira de se considerar ou não a alta de uma criança moderadamente anêmica, em associação com outros recursos. CONCLUSÕES: A incompatibilidade sangüínea materno-fetal foi preditiva de hiperbilirrubinemia que necessitou tratamento. Quando foi considerado o ponto de corte de 2,0 mg/100 ml no sangue do funículo umbilical, em 53% das vezes, os recém-nascidos atingiram níveis séricos de bilirrubina não conjugada indicativos de fototerapia até o terceiro dia de vida.
CONTEXT: With early discharge, many newborns have to be readmitted to hospital for hyperbilirubinemia to be treated, and this has been held responsible for the reappearance of kernicterus. OBJECTIVE: To evaluate whether bilirubin levels in cord blood could predict neonatal hyperbilirubinemia that would require treatment, in full-term newborns up to their third day of life. TYPE OF STUDY: Prospective study. SETTING: Neonatal Unit of Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, Brazil. PARTICIPANTS: 380 full-term newborns considered normal: with or without ABO/Rh blood group incompatibility and without other complications. PROCEDURES: Blood was taken from the umbilical cord for analysis of conjugated, unconjugated and total bilirubin serum levels. The newborns were followed up until discharge, and unconjugated bilirubin that required phototherapy was compared to the cord bilirubin assay. Discriminant analysis was used to classify newborns: with or without risk of needing phototherapy by the third day of life. MAIN MEASUREMENTS: Bilirubin assay in cord blood; mother's and newborn's blood groups; phototherapy indication. RESULTS: The mean value for unconjugated bilirubin in cord blood was significantly higher in newborns whose unconjugated bilirubin required phototherapy. The presence of ABO blood group incompatibility was a significant variable in relation to unconjugated bilirubin that required phototherapy. The most useful cutoff point for unconjugated bilirubin in cord blood was 2.0 mg/100 ml. DISCUSSION: Cord blood could be collected, stored and used for further analysis of unconjugated bilirubin levels as a means for considering whether or not to discharge a moderately jaundiced child from hospital, in association with other resources. CONCLUSIONS: Blood incompatibility between mother and child was a predictor for the appearance of hyperbilirubinemia that required treatment. Considering a cutoff point of 2.0 mg/100 ml, it could be concluded that 53% of the newborns who had greater unconjugated bilirubin levels in cord blood would reach levels requiring phototherapy by the third day of life.