Resumo: Passados 25 anos do genocídio em Ruanda, no qual mais de 800 mil pessoas foram mortas, ainda persistem feridas abertas e conteúdos que precisam ser trabalhados para se seguir adiante. Na interface dos desafios da reconciliação e do dever de memória, Scholastique Mukasonga nos presenteia com uma obra aberta, capaz de possibilitar leituras sensíveis e plurais acerca desta última grande tragédia do século XX, cujas raízes remontam ao Neocolonialismo. Neste artigo analisamos a obra A mulher de pés descalços, da ruandense Scholastique Mukasonga (2017), buscando evidenciar o sentido da narrativa, o dever de memória sugerido pelo texto, a violência de gênero e a escrevivência (EVARISTO, 2005) como estratégia política de consolidação de lugares de fala de mulheres negras. A mulher de pés descalços é uma narrativa arrebatadora, tecida na interface da história e da memória, que lança luzes para o sofrimento individual e familiar da própria autora/narradora e a partir dele, opera com ampliação de escalas para favorecer o entendimento da dor vivenciada pela sociedade ruandesa, em especial pelos tutsis, com o exílio iniciado em 1963 e o genocídio de 1994. Conclui-se que o genocídio de 1994 é um crime contra a humanidade não só por sua proporção e por ter atingido a homens e mulheres, mas porque desfigurou e desumanizou em grande escala o elemento feminino representado pela mulher-mãe.
Abstract: After 25 years of Ruanda’s Genocide, event in which more than 800 thousand people were killed, it’s not easy to forget, then, somethings need to be thought to go straight. Between reconciliation and memory, Scholastique Mukasonga writes an open masterpiece, the book could be read in different ways, we can take different looks to the tragedy. In this paper, we analyse A mulher de pés descalços (2017) in a way to discuss the narrative, gender violence and the “escrevivência” (EVARISTO, 2005) like a political strategy to offer voice to black woman. A mulher de pés descalços links history and memory, links the individual suffering and the familiar suffering reaching the collective suffering, main the tutsis suffering in virtue of the exhile since 1963 until the genocide in 1994. We understand that genocide is a crime against humanity not only in virtue of this proportion, but because defaced and dehumanized the feminine elements, considering the women and the maternity.