Diversas espécies de rãs terrestres, tartarugas e insetos desenvolveram mecanismos para resistência ao congelamento, como o aumento dos níveis de glicose, proteínas anticongelantes e enzimas antioxidantes. Neste estudo, verificou-se a importância da glicose para a crioresistência de dois anfíbios anuros: a rã Rana catesbeiana e o sapo Bufo paracnemis. Os animais foram expostos a -2ºC para medidas de glicemia, conteúdo de glicogênio muscular e hepático, hematócrito e volume celular das hemácias. As rãs sobreviveram à exposição, enquanto os sapos não. A glicemia aumentou de 40,35 ± 7,25 para 131,87 ± 20,72 mg/dl (P < 0.01) quando as rãs foram transferidas de 20 para -2ºC. Este acúmulo de glicose em resposta à exposição ao frio foi acompanhado por uma redução (P < 0.05) no conteúdo de glicogênio hepático de 3,94 ± 0,42 para 1,33 ± 0,36 mg/100 mg de tecido, indicando que o catabolismo do glicogênio hepático foi, provavelmente, a principal fonte de carbono para a síntese de glicose, enquanto o glicogênio muscular parace ser de menor importância. Nos sapos, a hiperglicemia induzida pelo frio foi relativamente menor (de 27,25 ± 1,14 para 73,72 ± 13,50 mg/dl; P < 0.05) e não verificou-se variação significativa no conteúdo de glicogênio muscular e hepático. A exposição a -2ºC não teve efeito sobre o hematócrito das rãs, mas reduziu significativamente (P < 0.01) o hematócrito dos sapos de 20,0 ± 2,1% para 5,8 ± 1,7%, devido a uma redução do volume das hemácias (de 1532 ± 63 para 728 ± 87 mm³). Quando glicose foi injetada nos sapos, a glicemia elevou-se a níveis similares àqueles das rãs e o hematócrito não variou, mesmo assim os sapos não se tornaram crioresistentes. Em conclusão, a deficiência no catabolismo da glicose, induzido pelo frio, não parece ser o único mecanismo responsável pela intolerância ao congelamento de Bufo paracnemis, uma espécie não tolerante ao congelamento.
Several species of terrestrially hibernating frogs, turtles and insects have developed mechanisms, such as increased plasma glucose, anti-freeze proteins and antioxidant enzymes that resist to freezing, for survival at subzero temperatures. In the present study, we assessed the importance of glucose to cryoresistance of two anuran amphibians: the frog Rana catesbeiana and the toad Bufo paracnemis. Both animals were exposed to -2ºC for measurements of plasma glucose levels, liver and muscle glycogen content, haematocrit and red blood cell volume. Frogs survived cold exposure but toads did not. Blood glucose concentration increased from 40.35 ± 7.25 to 131.87 ± 20.72 mg/dl (P < 0.01) when the frogs were transferred from 20 to -2ºC. Glucose accumulation in response to cold exposition in the frogs was accompanied by a decrease (P < 0.05) in liver glycogen content from 3.94 ± 0.42 to 1.33 ± 0.36 mg/100 mg tissue, indicating that liver carbohydrate reserves were probably the primary carbon source of glucose synthesis whereas muscle carbohydrate seems unimportant. In the toads, the cold-induced hyperglycaemia was less (P < 0.05) pronounced (from 27.25 ± 1.14 to 73.72 ± 13.50 mg/dl) and no significant change could be measured in liver or muscle glycogen. Cold exposition had no effect on the haematocrit of the frogs but significantly reduced (P < 0.01) the haematocrit of toads from 20.0 ± 2.1% to 5.8 ± 1.7% due to a decreased red blood cell volume (from 1532 ± 63 to 728 ± 87 mm³). When toads were injected with glucose, blood glucose increased to levels similar to those of frogs and haematocrit did not change, but this failed to make them cryoresistent. In conclusion, the lack of cold-induced glucose catabolism may not be the only mechanism responsible for the freeze intolerance of Bufo paracnemis, a freeze-intolerant species.