O sistema de saúde brasileiro caracteriza-se pela grande participação do setor privado. Na presente década, as empresas que atuam em setores relacionados à saúde ganharam destaque no mundo corporativo pelos seus resultados e pela magnitude de suas operações financeiras. A trajetória das empresas foi analisada sob a ótica da financeirização, entendida como a disseminação de um padrão de acumulação característico do capitalismo contemporâneo. O objetivo deste artigo é analisar as expressões da financeirização na dimensão contábil-financeira das empresas e grupos econômicos do setor de saúde brasileiro. O estudo descreve a trajetória de rubricas e indicadores contábeis no período de 2009 a 2015, com base no levantamento das demonstrações financeiras de 43 empresas em cinco subsetores (planos de saúde, hospitais, varejo farmacêutico, indústria farmacêutica e serviços de apoio ao diagnóstico e à terapia). Os resultados são apreciados em quatro categorias: porte, desempenho, endividamento e relevância de aplicações financeiras. Esses resultados foram comparados com o conjunto das grandes empresas e das empresas de capital aberto no Brasil. O estudo evidencia aspectos centrais da financeirização, tais como o crescimento do setor, a expansão das empresas líderes e a centralização de capital, corroborando hipóteses ligadas à concentração e à centralização de capital. Outras hipóteses, como a relevância das aplicações financeiras nas receitas, não foram confirmadas. Por fim, os indícios fornecidos por uma análise estritamente contábil sugerem a necessidade de incorporar outras dimensões à análise, notadamente as estratégias de fusões, aquisições e outras operações patrimoniais.
The Brazilian health system is characterized by major participation by the private sector. In the current decade, companies working in health-related sectors have stood out in the corporate world due to the results and size of their financial operations. The study analyzed the companies’ trajectory from the perspective of financialization, defined as the dissemination of a pattern of accumulation, characteristic of contemporary capitalism. The article aimed to to analyze the expressions of financialization in the accounting-financial dimension of companies and corporate groups in the Brazilian health sector. The study describes the trajectory of accounting items and indicators from 2009 to 2015, based on an examination of financial statements from 43 companies in 5 subsectors (health plans, hospitals, retail pharmacies, pharmaceutical industry, and diagnostic and therapeutic support services). The results are analyzed in four categories: size, performance, indebtedness, and relevance of financial operations. The results were compared to the overall results for large and open-capital corporations in Brazil. The study reveals central aspects of financialization such as the sector’s growth, the expansion of leading companies, and capital centralization, corroborating hypotheses concerning the concentration and centralization of capital. Other hypotheses, such as the relevant impacts of financial operations on revenues, were not confirmed. Finally, the evidence provided by a strictly accounting-based analysis suggest the need to incorporate other dimensions, especially such strategies as mergers, acquisitions, and other equity operations.
El sistema de salud brasileño se caracteriza por la gran participación del sector privado. Durante la presente década, las empresas que actúan en sectores relacionados con la salud ganaron relevancia en el mundo corporativo por sus resultados y la magnitud de sus operaciones financieras. La trayectoria de las empresas fue analizada desde la óptica de la financiarización, entendida como la diseminación de un patrón de acumulación característico del capitalismo contemporáneo. El objetivo de este artículo es analizar las expresiones de la financiarización en la dimensión contable-financiera de las empresas y grupos económicos del sector de salud brasileño. El estudio describe la trayectoria de partidas presupuestarias e indicadores contables durante el período de 2009 a 2015, a partir de la recopilación de la información financiera de 43 empresas en cinco subsectores (planes de salud, hospitales, venta farmacéutica al por menor, industria farmacéutica y servicios de apoyo al diagnóstico y a la terapia). Los resultados son apreciados en cuatro categorías: porte, desempeño, endeudamiento y relevancia de aplicaciones financieras. Los resultados fueron comparados con el conjunto de grandes empresas y de empresas de capital abierto en Brasil. El estudio evidencia aspectos centrales de la financiarización, tales como el crecimiento del setor, la expansión de las empresas líderes y la centralización de capital, corroborando hipóteses vinculadas a la concentración y a la centralización de capital. Otras hipótesis, como la relevancia de las aplicaciones financieras en los ingresos, no fueron confirmados. Finalmente, los indicios proporcionados por un análisis estrictamente contable sugieren la necesidad de incorporar otras dimensiones al análisis, en particular, estrategias de fusiones, adquisiciones y otras operaciones patrimoniales.