Resumo Ser letrado no mundo de hoje implica o uso consciente, criativo e crítico da linguagem (e outros recursos semióticos) para diferentes propósitos, contextos e públicos (FREEBODY & LUKE, 1990, 2003). Essa noção de letramento como prática social (BARTON & HAMILTON, 2000; STREET, 1995) foi ampliada a fim de incluir a ideia de multiletramentos (NEW LONDON GROUP, 1996; KALANTZIS & COPE, 2012), em reconhecimento ao papel que a tecnologia e o texto digital exercem na vida dos jovens. Contudo, as práticas de letramento de estudantes do ensino primário, do modo como elas são vivenciadas dentro e fora da escola, ainda carecem ser mais investigadas. Este é o caso específico de alunos cujas práticas de letramentos, envolvendo textos, oralidade e tecnologia, são mobilizadas pelo cruzamento de linguagens. A pesquisa aqui relatada investigou as práticas de letramento e linguagem usada por 68 estudantes de três escolas primárias em Melbourne, Austrália. Cada uma dessas escolas oferecia programas bilíngues a seus alunos (envolvendo instrução em Mandarin ou Vietnamita, além de Inglês). Os dados foram coletados por meio de questionários e entrevistas com pequenos grupos e revelam que os alunos vivem experiências altamente multilíngues, nas quais escolhas linguísticas sofisticadas e o translingualismo integram suas vidas dentro e fora da escola. A pesquisa também relevou que ligações diretas são feitas entre as línguas/linguagens aprendidas na escola e as práticas de letramento pessoais, familiares e da comunidade. Assim sendo, os alunos atribuem um alto grau de importância ao fato de se tornarem biletrados e reconhecem os benefícios linguísticos, sociais, educacionais e funcionais de uma educação bilíngue. Os resultados do estudo fornecem ricas contribuições para as práticas bilíngues e multilíngues envolvendo textos, oralidade e tecnologia. Este artigo defende que a educação bilíngue, como foi implantada nos cenários investigados, potencializa a aprendizagem e o senso de identidade dos estudantes, ao mesmo tempo em que auxilia o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que esses estudantes mobilizam em suas vidas cada vez mais tecnologizadas.
ABSTRACT It is widely recognized that to be literate in today's world requires conscious, creative and critical deployment of language (and other semiotic devices) for different social purposes, contexts and audiences (FREEBODY & LUKE, 1990, 2003). This notion of literacy as social practice (BARTON & HAMILTON, 2000; STREET, 1995) has been extended to include the idea of multiliteracies (NEW LONDON GROUP, 1996; KALANTZIS & COPE, 2012), in recognition of the roles technology and digital text use and production play in young people's lives. However, the literacy practices of primary school-aged students, as they enact them in their daily in-school and out-of-school lives, remain under-investigated. This is particularly the case with bilingually-educated students whose literacy practices, involving texts, talk and technology, are deployed across languages. The research reported here investigated the literacy practices and language use of 68 students at three primary schools in Melbourne, Australia. Each of these schools offered bilingual programs to their students (involving instruction in Mandarin Chinese or Vietnamese, along with English). Data collected through individually administered questionnaires and small group interviews reveal these students live highly multilingual lives, where sophisticated linguistic choices and translanguaging are part of both their in-school and out-of-school lives. The research revealed that direct connections are made between the languages learned at school and personal, family and community literacy practices. As such, the students were found to attach high levels of importance to becoming biliterate, and powerfully attest to the linguistic, educational, social and functional benefits of bilingualism and a bilingual education. The research findings provide valuable insights into bilingual and multilingual practices involving texts, talk and technology. This article posits that bilingual education, as implemented at the three research sites, enhances students' learning and their sense of personal identity, as well as affording them skills and understandings they deploy in their own increasingly technology-mediated lives.