Resumo A Terra Indígena (TI) Pimentel Barbosa, da etnia Xavante, está localizada na região de maior atividade anual de queima do mundo, denotando a necessidade de um monitoramento oportuno e preciso dos padrões espaço-temporais de ocorrência do fogo. Neste sentido, o presente trabalho objetivou caracterizar as ocorrências de queima na referida TI, entre os anos de 1984 a 2018, relacionando-as tanto com as diferentes tipologias vegetais e uso do solo presentes na TI quanto com o modo de vida Xavante. Cicatrizes de queima foram identificadas, mapeadas e analisadas quanto a sua distribuição espacial e frequência, incluindo o aspecto da tipologia vegetal e uso do solo. Em 34 anos, a TI queimou uma área superior a 1.500%, com o registro de queima de mais da metade da área em diversos anos, não apresentando padrão espacial que expresse as práticas tradicionalmente utilizadas. As tipologias vegetais savânicas e o uso agropecuário apresentaram mais de 90% da área atingida. Em todas as tipologias e uso, predominou frequência classificada como média ou alta, de 9 a 34 ocorrências, sendo 20 vezes a frequência mais comum. Os Xavantes passaram por migrações forçadas e pela expropriação e retalhamento do seu território, culminando em alterações no padrão seminômade, na sedentarização, na modificação da estrutura territorial e na integração ao padrão da cultura brasileira. Este processo é indicado como responsável elementar ao estabelecimento do cenário de queima identificado, se fazendo necessárias ações para que as queimadas possam ser utilizadas como uma ferramenta sustentável.
Abstract The Pimentel Barbosa Indigenous Land (PBIL), which belongs to the Xavante ethnic group, is in the region with the highest annual fire activity in the world, indicating the need for accurate monitoring of spatial and temporal patterns of fire events. In this context, this study characterizes the fire regime in the PBIL from 1984 to 2018 and correlates to the types of vegetation and land use, and the culture of the local Xavante people. Fire scars were identified, mapped and then their spatial distribution and frequency were analyzed, including aspects of plant typology and land use. Over the 34-year study period, the burned area in the PBIL was 1,500% larger than its total area, with evidence of burning in over half the area in several years. There was no spatial pattern to indicate the use of traditional practices. The Savanna areas and agricultural land accounted for more than 90% of the total affected area. The fire frequency was classified as medium or high (9 to 34 occurrences) for all land use types, showing that twenty times the most common frequency. The Xavante went through forced migrations, and the expropriation and fragmentation of their territory have altered their semi-nomadic way of life. This has resulted in sedentarization, the modification of their territorial structure, and the integration of their culture into mainstream Brazilian social norms. This process is mainly responsible for the current burning scenario, indicating the need for actions so that fire can be used as a sustainable tool.
Resumen La Tierra Indígena (TI) Pimentel Barbosa, de la etnia Xavante, se encuentra en la región con la mayor actividad anual de quema en el mundo, lo que denota la necesidad de un monitoreo oportuno y preciso de los patrones espacio-tiempo de ocurrencia de incendios. En este sentido, el presente estudio pretendía caracterizar las ocurrencias de quema en esa TI, entre los años 1984 y 2018, relacionándolas con los diferentes tipos de vegetación y uso del suelo presentes en ella. Las cicatrices de quemas fueron identificadas, mapeadas y analizadas para su distribución espacial y recurrencia, incluyendo el aspecto de la tipología de las plantas y el uso del suelo. En 34 años, la TI se quemó em mas de 1500% de su área, los registros de quemas em mas de la mitad de la zona durante varios años, no muestra ningún patrón espacial que muestre las practicas tradicionalmente utilizadas. Los tipos de vegetación de sabana y el uso agrícola representaron más del 90% de la superficie afectada. En todos los tipos y uso, predominó la recurrencia clasificada como media o alta, de 9 a 34 recurrencias, siendo 20 veces la frecuencia más común. Los Xavantes pasaron por migraciones forzadas y la expropiación y destrucción de su territorio, culminando en cambios en el patrón seminomade, sedentarización, modificación en la estructura territorial e integración con el patrón cultural brasileño. Este proceso se indica como el principal responsable del establecimiento del escenario de quemas identificado, haciendo necesarias algunas acciones para que las quemas pueden utilizarse como una herramienta sostenible.