RESUMO Condições naturais adversas, geralmente, induzirão gemulação nas esponjas de água doce. Devido a essa dependência ambiental, é atribuído excepcional valor às gemoscleras, em estudos taxonômicos, ecológicos e paleoambientais. Outras categorias de espículas, tais como as microscleras e beta megascleras, têm recebido pouca atenção com respeito à sua ocorrência e função durante o ciclo biológico da esponja. Metania spinata, uma espécie sul-americana comum em águas de turfeira no Bioma Cerrado, produz alfa e beta megascleras, microscleras e gemoscleras. Para detectar os fatores ambientais indutores da produção de todas essas categorias de espículas, foi estudado o ciclo sazonal anual da espécie. Substratos artificiais foram criados, supridos com gêmulas e colocados na Lagoa Verde, que continha uma população natural deM. spinata. Monitoramento em campo foi conduzido por oito meses visando observar o crescimento de esponjas e a formação de espículas. Amostras da água foram colhidas mensalmente, para determinação de parâmetros físicos e químicos. O aparecimento das megascleras alfa foi seguido sequencialmente pelo das microscleras, gemoscleras e beta megascleras. As primeiras constroem o novo esqueleto da esponja, as últimas três estavam envolvidas na manutenção da umidade interior no corpo da esponja ou de suas gêmulas. O nível da água, temperatura e a concentração de sílica (Si) na lagoa foram os fatores mais importantes, relacionados a essa produção sequencial de espículas, confirmando reconstruções paleoambientais baseadas na presença ou ausência de megascleras alfa e gemoscleras em sedimentos passados.
ABSTRACT Adverse natural conditions will, generally, induce gemmulation in freshwater sponges. Because of this environmental dependence, gemmoscleres are given exceptional value in taxonomic, ecological and paleoenvironmental studies. Other spicules categories such as microscleres and beta megascleres have received little attention with regard to their occurrence and function during the sponge biological cycle. Metania spinata, a South American species common to bog waters in the Cerrado biome, produces alpha and beta megascleres, microscleres and gemmoscleres. To detect the environmental factors triggering the production of all these kinds of spicules, the species annual seasonal cycle was studied. Artificial substrates were devised, supplied with gemmules and placed in Lagoa Verde pond which contained a natural population of M. spinata. Field monitoring was conducted for eight months in order to observe the growth of sponges and spicules formation. Samples of water were taken monthly for physical and chemical parameters determination. The appearance of the alpha megascleres was sequentially followed by that of microscleres, gemmoscleres and beta megascleres. The first ones built the new sponge skeleton, the last three were involved in keeping inner moisture in the sponge body or its gemmules. The water level, temperature and the silicon (Si) concentration in the pond were the most important factors related to this sequential production of spicules, confirming environmental reconstructions based on the presence or absence of alpha megascleres and gemmoscleres in past sediments.