Resumo: Esta etnografia objetivou compreender a experiência de profissionais da saúde que trabalham em um Serviço de Atenção Especializada em HIV/aids num contexto de área remota, no Nordeste brasileiro. Para a coleta de dados, utilizaram-se observação participante e entrevista semiestruturada com sete profissionais que compunham a equipe do serviço estudado. Por meio da técnica de codificação temática, obtiveram-se três categorias: “eu não sabia nem o que era”: aspectos do vir a ser profissional especializado em HIV/aids; “está todo mundo lá meio que escondido”: estratégias de enfrentamento à (in)visibilidade do status sorológico; e “a gente vive em cima da corda bamba”: experiências no processo de trabalho. O aspecto mais relevante deste estudo diz respeito à invisibilidade institucional do serviço como reflexo da atual configuração do dispositivo da aids no Brasil. Os resultados assinalaram algumas dificuldades próprias de serviços localizados em áreas remotas, notadamente a inexperiência dos profissionais e seu agravamento pela carência de educação permanente, necessidades infraestruturais, o lugar das ações de saúde em HIV/aids na agenda política local e a centralidade do fazer médico na organização do processo de trabalho. Destacou-se, ainda, a agência dos interlocutores na produção de estratégias de enfrentamento dessas dificuldades. Este estudo acrescenta ao ressaltar a dimensão local como um marcador social da diferença que modelava as experiências dos interlocutores, pois é ali onde as diretrizes e os princípios da política de saúde são performados por profissionais, gestores e usuários compondo materialidades diversas.
Abstract: This ethnographic study aimed to understand the experience of health professionals working in a Specialized Service for HIV/AIDS Care in a remote area of Northeast Brazil. Data collection used participant observation and a semi-structured interview with seven professionals in the health care team. The thematic coding technique yielded three categories: “I didn’t even know what it was”: aspects of becoming a specialist in HIV/AIDS; “They’re all out there, kind of hidden”: strategies for dealing with the (in)visibility of serological status; and “We live on the tightrope”: experiences in the work process. The study’s most relevant aspect was the service’s institutional invisibility as a result of the current configuration of the AIDS structure in Brazil. The results revealed several difficulties that are typical of services located in remote areas, especially the health professionals’ lack of experience, aggravated by the lack of continuing education, unmet infrastructure needs, the position of HIV/AIDS care on the local political agenda, and the physician-centered organization of the work process. The study also highlighted the interlocutors’ agency in the production of strategies to deal with these difficulties. The study further emphasized the local dimension as a social marker of difference that modeled the interlocutors’ experiences, where the health policy’s guidelines and principles are performed by health professionals, administrators, and users, comprising diverse material forms.
Resumen: Este estudio etnográfico tuvo como objetivo comprender la experiencia de profesionales de salud, que trabajan en un Servicio de Atención Especializada en VIH/SIDA en un contexto de área remota, en el nordeste brasileño. Para la recogida de datos, se utilizaron técnicas observación participante y entrevista semiestructurada con siete profesionales que componían el equipo del servicio estudiado. Mediante la técnica de codificación temática, se obtuvieron tres categorías: “yo no sabía ni lo que era”: aspectos de lo que supone convertirse en un profesional especializado en VIH/SIDA; “está todo el mundo allí medio escondido”: estrategias de enfrentamiento a la (in)visibilidad del estatus serológico; y “la gente vive sobre una cuerda floja”: experiencias en el proceso de trabajo. El aspecto más relevante de este estudio se refiere a la invisibilidad institucional del servicio, como reflejo de la actual red de atención al SIDA en Brasil. Los resultados señalaron algunas dificultades propias de servicios localizados en áreas remotas, resaltándose la inexperiencia de los profesionales y su agravamiento por la carencia de formación permanente; necesidad de infraestructuras; el lugar de las acciones de salud en relación con VIH/SIDA dentro de la agenda política local, y la centralidad del quehacer médico en la organización del proceso de trabajo. Se destaca, no obstante, la voluntad de los interlocutores para generar estrategias que enfrenten esas dificultades. Este estudio es relevante al resaltar la dimensión local, como un marcador social de las diferencias que modelaban las experiencias de los interlocutores, pues es allí donde se llevan a cabo las directrices y los principios de política de salud por parte de profesionales, gestores y usuarios formando materialidades diversas.