Resumo O objetivo desta pesquisa foi analisar como os processos de medicalização da infância atuam em comunidades biossociais de pais na rede social. A investigação partiu de uma abordagem de etnografia virtual em dois grupos de comunidades de pais de crianças diagnosticadas com TDAH na plataforma Facebook, pelo período de junho de 2021 a novembro de 2022, tendo como viés analítico análise de discurso de Michel Foucault. Os resultados demonstram que as redes sociais são espaços de ancoragem, circulação e reforço de discursos que atuam a partir de enunciados biomédicos acerca da medicalização da infância, e que constroem posições de sujeitos para pais, mães e, em especial, as crianças, que são o objeto destes discursos. Além disso, os fenômenos de medicalização da infância se tornam articulados por estratégias biopolíticas que reduzem apenas a causas biológicas um conjunto de problemas sociais e educativos. Podemos afirmar, ao fim, que as redes sociais auxiliam na expansão dos diagnósticos de transtornos mentais infantis através dos inúmeros compartilhamentos de informações sobre os possíveis transtornos, atuando como ferramentas para criação, circulação e controle de corpos por meio de enunciados ancorados em discursos biopsicopatológicos, que por sua vez permitem a produção de biocidadanias digitais-informacionais e comunidades biossociais.
Abstract This research aims to analyze how the processes of medicalization of childhood operate in biosocial communities of parents in the social network. The investigation started from a virtual ethnography approach in two community groups of parents of children diagnosed with ADHD on the Facebook platform, from June 2021 to November 2022, using Michel Foucault’s discourse analysis as its analytical bias. The results show that social networks are spaces for anchoring, circulating, and reinforcing discourses that act on biomedical statements about the medicalization of childhood, and that construct subject positions for fathers, mothers and, in particular, children, these being the object of these speeches. Furthermore, the phenomena of medicalization of childhood become articulated by biopolitical strategies that reduce a set of social and educational problems to biological causes only. We can affirm, in the end, that social networks help in the expansion of diagnoses of mental disorders in children due to the countless sharing of information about possible disorders, acting as tools for the creation, circulation, and control of bodies with statements anchored in biopsychopathological discourses, which in turn allow the production of digital-informational biocitizens and biosocial communities.