Como os membros dos grupos privilegiados percebem a si mesmos? Que grupos consideram como “os outros” e em função de que aspectos, características e dimensões? Que percepções sobre si – e sobre o que os diferencia dos outros – transmitem aos seus filhos? Apoiando-se em entrevistas e observações realizadas em um clube privado, socialmente seletivo, localizado em uma cidade do interior paulista, ao longo de dezoito meses, este artigo (i) descreve o constante e árduo trabalho de construção de fronteiras sociais e simbólicas em que se engajam os indivíduos para definir e negociar diferenças com relação tanto a membros de outras frações dos grupos privilegiados, quanto a membros de grupos menos privilegiados; (ii) identifica elementos do sistema de crenças que dá sentido a esse trabalho de construção de fronteiras, apontando, em especial, a centralidade das fronteiras morais; e (iii) documenta processos pelos quais crianças e adolescentes se integram a ele. Ao revelar o modo como tais crenças são mobilizadas nas interações cotidianas e transmitidas para as novas gerações, o artigo oferece uma contribuição particular para os estudos sobre a desigualdade social brasileira, identificando o reforço dado pelos indivíduos às hierarquias sociais inscritas nas instituições.
How do members of the privileged groups perceive themselves? Which groups do they consider as “the others”? Which aspects, characteristics, and dimensions of these groups do they mobilize in order to make these distinctions? Which perceptions about themselves and about what distinguishes them from others do they transmit to their children? Drawing data from an ethnography of an elite social club located in a city in the state of São Paulo, the article (i) describes the social and symbolic boundary work in which members of certain fractions of the upper classes engage in order to define and negotiate differences from other fractions and from members of other social groups; (ii) identifies elements of the belief system that gives meaning to this work, showing the centrality of the moral boundaries, and (iii) documents processes by which children and adolescents integrate with it. By revealing how beliefs are mobilized in everyday interactions and transmitted to the new generations, the article offers a contribution to the studies on Brazilian social inequality, acknowledging the reinforcement that individuals give to the social hierarchies inscribed in institutions.
Comment les membres des groupes privilégiés se perçoivent-ils ? Quels groupes considèrent-ils comme « les autres » et en fonction de quels aspects, caractéristiques et dimensions ? Quelles perceptions sur eux-mêmes – et sur ce qui les différencie des autres – transmettent-ils à leurs enfants ? À partir d’entretiens et d’observations menées pendant dix-huit mois dans un club privé, socialement sélectif, situé dans une ville de l’état de São Paulo, cet article se propose de : (i) décrire le travail constant et ardu de construction de frontières sociales et symboliques des individus pour définir et négocier des différences par rapport à des membres d’autres groupes de même classe sociale et à des membres de groupes moins privilégiés ; (ii) identifier des éléments du système de croyances qui donne un sens à ce travail de construction de frontières, avec l’accent sur les frontières morales ; et (iii) souligner les processus d’intégration des enfants et des adolescents. En montrant comment ces croyances sont mobilisées dans les interactions quotidiennes et transmises aux nouvelles générations, ce travail contribue aux études sur l’inégalité sociale brésilienne. Il identifie le renforcement par les individus des hiérarchies sociales inscrites dans les institutions.