Resumo: O filme Paris Is Burning, de Jennie Livingston, tem suscitado críticas e elogios desde seu lançamento, em 1990. Seu retrato da cultura dos bailes no Harlem nos anos 80, a abordagem da sua singular economia de construção de gênero e as negociações que faz do cruzamento entre etnicidade e sexualidade inspiraram leituras desde o ativismo negro, o pós-estruturalismo e, mais recentemente, os estudos trans. Mas, além da questão da problematização da apropriação e da autoria, existem camadas do documentário que nos levam a refletir a respeito da construção de laços afetivos, de comunidade e da autonomia da agência de sujeitos marginalizados e sua resiliência em face da violência de gênero. Apesar da espetacularização oriunda dos bailes, o filme comunica dignidade de seus sujeitos e opera no espectador a experiência do luto, que propõe uma comunidade compartilhada que finalmente nos una a partir da diferença.
Abstract: Jennie Livingston’s film Paris Is Burning has raised criticism and applaud since its opening, in 1990. Its portrayal of the Harlem balls in the 1980’s, the approach to its unique economy of gender construction and the negotiations it operates in the intersection of ethnicity and sexuality have inspired readings from the black activism, the post-structuralism, and, more recently, from trans studies. But, beyond the problem of appropriation and authorship, there are layers to the documentary that propose a argument about the construction of kinship, of community and agency of those marginalized subjects and their resilience in facing gender violence. Although the balls produce spectacle, the movie communicates dignity and operates in the viewers the experience of mourning, which creates a shared community of difference.