RESUMO Nos últimos anos, uma mudança crescente nas relações políticas, sociais e culturais mais progressistas em direção a uma visão conservadora retrógada está em andamento em boa parte do mundo. Uma postura política fascista (STANLEY, 2018) tem sido observada em diferentes partes do globo e diferentes políticos têm sido capazes de reunir seguidores insatisfeitos com economias em decadência nos seus países, geralmente recorrendo a um discurso do “nós contra eles”. Tal insatisfação encontrou terreno fértil em plataformas de mídia social como, por exemplo, Facebook e WhatsApp, e elevou as tensões em torno dessas questões a um nível jamais visto anteriormente. Na eleição presidencial de 2018 no Brasil, tensões semelhantes foram alimentadas por um candidato com um discurso autoritário, xenófobo e misógino. Mais importante, porém, esse discurso autoritário não deixou de ser contestado e as mesmas plataformas de mídia social foram palco de resistências a ele, como, por exemplo, o movimento #elenão, criado no Facebook pelo grupo “Mulheres Unidas contra o Bolsonaro”, e o movimento hip hop no Brasil, que lançou canções de protesto e um manifesto chamado “Rap pela Democracia” no YouTube. Neste artigo, selecionamos um videoclipe em particular, ‘Primavera Fascista’, para apresentar uma análise multimodal de como a resistência ao discurso daquele candidato foi construída, com foco nos recursos visuais, sonoros, musicais e linguísticos (KRESS, 2010; MACHIN, 2010) utilizados. Partindo de uma visão da linguagem como performativa (PENNYCOOK, 2004; 2007), usamos os construtos teórico-analíticos de entextualização (BAUMAN & BRIGGS, 1990) e indexicalidade (BLOMMAERT, 2005; 2010) para discutir como este rap é um intenso exercício discursivo de reflexividade metapragmática sobre os efeitos performativos de uma série de declarações fascistas produzidas pelo candidato.
ABSTRACT In recent years, an on-going shift from more progressive political, social and cultural relations towards a more conservative turn around the world has been under way. A fascist political stance (STANLEY, 2018) has been noted in different parts of the globe and politicians have been able to gather followers dissatisfied with crumbling economies by usually making recourse to an “us versus them” discourse. Such dissatisfaction and bias have found fertile ground in social media platforms, e.g. Facebook and WhatsApp, and elevated the tensions around such issues to a level never before seen. In the 2018 presidential election in Brazil, similar tensions were fuelled by a candidate with an authoritarian, xenophobic and misogynistic discourse. More importantly, that authoritarian discourse did not go unchallenged and the same social media platforms were home for constant resistance to it such as, for instance, the movement #nothim, created by the Facebook group “Women United against Bolsonaro”, and the rap/hip hop movement in Brazil, which released protest songs and a manifesto called “Rap for Democracy” on YouTube. In this paper, we focus on one music video in particular, ‘Primavera Fascista’ (“Fascist Spring”) to present a multimodal analysis of how resistance to that candidate’s discourse was constructed. We look into visual, sound, musical and linguistic resources (KRESS, 2010; MACHIN, 2010). Drawing upon a view of language as performative (PENNYCOOK, 2004; 2007), we use the analytical constructs of entextualization (BAUMAN & BRIGGS, 1990) and indexicality (BLOMMAERT, 2005; 2010) to show that the rap song is an exhaustive discursive exercise of metapragmatic reflexivity on the performative effects of a number of fascist statements produced by the candidate.