Resumo A educação em sexualidade deve ser entendida como um processo de intervenção pedagógica que tem como objetivo transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade, à saúde sexual e reprodutiva, aos direitos sexuais, às relações de gênero, à diversidade sexual e ao desejo afetivo-sexual. Todavia, muitos paradigmas impedem a efetivação dessa educação no ambiente escolar. Entretanto, sendo a escola itinerante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) um espaço educacional pautado nos pressupostos freireanos, existiriam os mesmos tabus, interditos sociais e preconceitos agindo sobre a efetivação da educação em sexualidade neste cenário? Com intuito de elucidarmos essa questão, elaboramos este estudo. Com método qualitativo descritivo, o estudo foi desenvolvido com dezoito educandos(as) de uma escola itinerante do MST no estado do Paraná, objetivando apresentar suas percepções sobre a educação em sexualidade na escola. Com base no material produzido durante a realização de grupos focais e anotações em diário de campo, sistematizados por análise categorial, é possível concluir que a educação em sexualidade na escola itinerante é promovida de forma medicalizada e biologizada, com ênfase no binômio saúde-doença, e que não há transversalidade sobre o ensino da temática entre as diversas disciplinas. Assim, mesmo utilizando aporte teórico metodológico freireano, a escola, ao tratar da educação em sexualidade, neste estudo, revelou-se paradoxal.
Abstract Sexuality education should be understood as a educational intervention process aimed at imparting knowledge and discussing issues related to sexuality, sexual and reproductive health, sexual rights, gender relations, sexual diversity, and sexual and affective desire. Nevertheless, many paradigms hinder such education at school. However, since the itinerant school of Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST – Landless Rural Workers’ Movement) is an educational school based on Paulo Freire’s assumptions, do the same taboos, social interdictions, and prejudice have an effect on sexuality education in this setting? This descriptive and qualitative study has aimed to answer this question. It was developed with eighteen students from the itinerant school of MST in Paraná state, and it sought to present their perceptions on sexuality education at school. Based on the material produced in focal group meetings and on field diary notes, which were ordered by categorical analysis, it is possible to conclude that sexuality education at the itinerant school is conducted in a medicalized and biologized way, emphasizing the health-disease binomial, and that there is not transversality between sexuality teaching and the other disciplines. Thus, even though this school uses Paulo Freire’s theoretical and methodological contribution, it has proved to be paradoxical when dealing with sexuality education.