O objetivo deste artigo é examinar as posições defendidas pelo Brasil durante a administração Lula (2003-2010) quanto à não proliferação, ao desarmamento e aos usos pacíficos da energia nuclear. O argumento central aponta que o Brasil consolidava aspirações presentes em momentos anteriores e desejava colocar-se como interlocutor entre os estados nuclearmente e não nuclearmente armados, a fim de reforçar sua posição como um solucionador de disputas e beneficiar-se em termos de uma maior participação nos fóruns internacionais, em particular da ampliação de sua atuação no desenvolvimento de regras e normas que limitassem ações unilaterais de grandes potências e preservassem a flexibilidade para a articulação dos interesses de estados emergentes. O Brasil almejava pressionar os estados nuclearmente armados para que cumprissem suas obrigações de desarmamento, enquanto procurava preservar a autonomia para desenvolver atividades nucleares pacíficas. Na primeira seção, são examinados o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro e a posição do Estado quanto a regimes internacionais nas áreas de não proliferação e desarmamento nucleares. Nas seções seguintes, é investigada a posição da administração Lula quanto à não proliferação e aos usos pacíficos da energia nuclear e, a seguir, ao desarmamento nuclear. Dentre as conclusões atingidas, cabe destacar que, ao mesmo tempo em que o Brasil viabilizou o diálogo com as potências do Norte e garantiu estabilidade e segurança regionais, ele operou como catalisador das demandas de estados em instituições nas quais buscavam ampliar oportunidades de voz.
This article seeks to examine the positions that Brazil defended during the Lula administration (2003-2010) on nuclear non-proliferation, disarmament and peaceful uses of nuclear energy. My central argument points to the way in which Brazil consolidated aspirations present at an earlier date and how it attempted to position itself as an interlocutor mediating states that had and did not have nuclear arms. The idea was to reinforce the country's position in conflict resolution, in terms of greater participation in international forums and, in particular, increasing its activities in developing rules and norms to limit the unilateral action of major powers and maintain flexibility in articulating the interests of emerging nations. Brazil sought to pressure states that had nuclear arms to comply with their disarmament obligations, while seeking to preserve its own autonomy in developing peaceful nuclear uses. In the first section of the article, I examine the development of the Brazilian nuclear program and the State's position in relation to international regimes in the field of nuclear non-proliferation and disarmament. In the following sections, I look at the position of the Lula administration regarding non-proliferation and at peaceful uses of nuclear energy and, lastly, at nuclear disarmament. Among my conclusions I give particular attention to the fact that, at the same time that Brazil enabled dialogue with Northern powers and guaranteed regional stability and security, the country also acted as a catalyst of states' demands within institutions, as they sought to widen opportunities to make themselves heard.
L'objectif de cet article c'est d'analyser les positions soutenues par le Brésil pendant la gestion Lula (2003-2010) en ce qui concerne la non-prolifération, le désarmement et l'utilisation pacifique de l'énergie nucléaire. L 'argument central montre que le Brésil consolidait des aspirations présentes auparavant, et souhaitait être l'interlocuteur entre les pays nucléairement et non-nucléairement armés, pour renforcer sa position comme un pays qui résout des disputes et s'en beneficier, avec une plus grande participation dans les forums internationaux, en particulier avec un élargissement de sa performance pour le développement de règles et normes qui limiteraient les actions unilatérales des grandes puissances et préserveraient la flexibilité pour l'articulation des intérêts de pays émergents. Le Brésil voulait contraindre les pays nucléairement armés à accomplir leurs obligations par rapport au désarmement, pendant qu'il cherchait préserver son autonomie pour développer des activités nucléaires pacifiques. Dans la première partie, le développement du programme nucléaire brésilien et la position de l'Etat par rapport aux régimes internationaux dans les domaines de la non-prolifération et du désarmement nucléaires y sont vérifiés. Dans les parties suivantes, on y investigue la position de la gestion Lula par rapport à la non-prolifération et aux utilisations pacifiques de l'énergie nucléaire et, en suite, au désarmement nucléaire. Parmi les conclusions obtenues, il est important de souligner que, en même temps où le Brésil a rendu possible le dialogue avec les puissances du Nord et a garanti de la stabilité et sécurité régionales, il a procédé comme un catalyseur des demandes de certains pays dans des institutions où ils cherchaient élargir les opportunités de manifestation .