RESUMO Introdução: Os médicos residentes constituem um grupo de risco para distúrbios emocionais e comportamentais, e isso pode levar à síndrome de burnout e interferir negativamente no atendimento prestado. Objetivo: Este estudo teve como objetivos identificar os estressores vivenciados por residentes de ginecologia e obstetrícia (GO) de uma maternidade-escola do Sul do Brasil e estimar a prevalência da síndrome de burnout entre eles. Método: Realizou-se a coleta de dados de agosto a dezembro de 2020 com 21 residentes. A coleta compreendeu duas etapas: na primeira, fez-se uma entrevista semiestruturada, por meio de um roteiro-guia, visando identificar os estressores vivenciados pelos residentes em GO. Na sequência, os participantes receberam um questionário autoaplicável que teve por objetivo medir o nível de burnout pautado no Maslach Burnout Inventory. Para análise dos dados qualitativos, adotou-se a metodologia discurso do sujeito coletivo. Para análise dos dados quantitativos, foi utilizada a descrição analítica dos dados. Resultado: Entre os estressores vivenciados pelos residentes, destacam-se: falta de acolhimento pela equipe multiprofissional ao ingressarem na residência; excessiva carga horária de trabalho; poucas horas de sono; o desafio de se tornarem responsáveis pelo próprio aprendizado; as várias abordagens terapêuticas por preceptores diferentes para um mesmo problema; sensação de insuficiência de conteúdo teórico durante a residência; culpa por não estudarem o quanto acreditam que deveriam; diminuição do tempo destinado ao lazer e à atividade física; alto nível de estresse; abalo emocional que a grande responsabilidade assumida acarreta; e falta de apoio psicológico. Dos 21 médicos residentes, a síndrome de burnout esteve presente em 57,1% dos participantes. Exaustão emocional foi a mais frequente dimensão (52,7%), seguida por despersonalização (33,3%) e baixa realização profissional (9,5%). Conclusão: Os estressores relatados apontam para necessidade de revisão da residência a fim de que consequências nefastas à saúde mental de residentes, como a síndrome de burnout e suas consequências, sejam prevenidas, diminuídas ou sanadas, de modo a evitar danos tanto para os residentes como para os pacientes por eles atendidos e para instituição de saúde. São propostas medidas profiláticas na busca de melhorias na qualidade de vida, na qualidade do atendimento e, talvez no aspecto mais importante: a mudança de foco, da residência centrada no serviço para a residência centrada no aprendiz.
ABSTRACT Introduction: Medical residents constitute a risk group for emotional and behavioral disorders, which can lead to Burnout Syndrome, negatively interfering with the care provided. Objective: To identify the stressors experienced by Gynecology and Obstetrics residents of a teaching maternity hospital in southern Brazil and estimate the prevalence of Burnout Syndrome among them. Method: Data was collected from August to December 2020 with 21 residents and comprised two stages: the first consisted of a semi-structured interview, using a guide script, aiming to identify the stressors experienced by the GO residents. Subsequently, the participants received a self-administered questionnaire that aimed to measure the level of Burnout based on the Maslach Burnout Inventory. Qualitative data analysis was performed using the Collective Subject Discourse methodology. Quantitative data analysis was performed using the analytical description of the data. Results: Among the stressors experienced by residents, the following stand out: lack of acceptance by the multidisciplinary team when entering the residency; excessive workload; lack of sleep; the challenge of becoming responsible for one’s own learning; the various therapeutic approaches by different preceptors for the same problem; feeling of insufficient theoretical content during the residency; guilt for not studying as much as you believe you should; decreased time devoted to leisure and physical activity, high level of stress; emotional upheaval that the great responsibility assumed entails and lack of psychological support. Of the 21 resident physicians, Burnout Syndrome was present in 57.1% of the participants. Emotional exhaustion was the most frequent dimension (52.7%), followed by Depersonalization (33.3%) and Low professional achievement (9.5%). Conclusion: The reported stressors point to the need to review the residency so that harmful consequences to the mental health of students, such as Burnout syndrome and its consequences, are prevented, reduced or remedied, avoiding damage to the residents, their patients and the health care institution. Prophylactic measures are proposed in the search for improvements in the quality of life, the quality of care and, perhaps most importantly, the shift in focus from a service-centered residency to a learner-centered residency.