A taxa de mortalidade infantil é considerada síntese da qualidade de vida e do nível de desenvolvimento de uma população. Entretanto, essa taxa é muito sensível a ações simples, como terapia de reidratação oral, vacinação e reversão do desmame precoce, cuja cobertura tem sido ampliada. Assim, a taxa de mortalidade infantil pode não estar mais refletindo o modelo de desenvolvimento. Buscando um aprofundamento da discussão sobre a mortalidade infantil, o presente estudo analisou os 153 bairros do Município do Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Nosso objetivo foi localizar áreas de risco e grupos prioritários de intervenção que visam diminuir a mortalidade infantil no município, abordando separadamente a mortalidade neonatal e pós-neonatal segundo os bairros. Além disso, foram identificados os fluxos entre o local de residência da criança e o local de óbito, relacionando-os à classificação socioeconômica dos bairros. A baixa freqüência de nascimentos em alguns bairros impediu a caracterização de áreas com risco de mortalidade estatisticamente significativo em relação à media do município. Cerca de um terço das mortes foram consideradas redutíveis mediante práticas adequadas de diagnóstico e tratamento. Somente 15% das causas de morte foram consideradas inevitáveis. Os componentes da mortalidade infantil apresentaram distribuição espacial dispersa, sem uma relação direta com o perfil socioeconômico; a mudança no perfil da mortalidade infantil e a possibilidade de intervenção parece deslocar-se cada vez mais para a esfera dos serviços de saúde, especialmente os médico-assistenciais. O fluxo das crianças entre o local de residência e o local de óbito mostra o deslocamento originado nas áreas mais pobres em direção às mais ricas, que concentram a maior parte das unidades de saúde. Essa tendência reafirma o papel fundamental do acesso à assistência médica de qualidade na determinação da mortalidade infantil.
The infant mortality rate has been considered a summary of the quality of life and level of development of a given population. However, this indicator is very sensitive to such simple measures as oral rehydration therapy, vaccination, and continuation of breast-feeding. Given that such health activities have become more widespread, an infant mortality rate may no longer reflect a particular development model. With the aim of broadening the discussion regarding infant mortality, this study analyzed the 153 neighborhoods of the city of Rio de Janeiro, Brazil. Our objective was to identify areas with more risk, and the priority groups for interventions to decrease infant mortality. We analyzed neonatal and postneonatal mortality in each neighborhood. We also identified the children's home neighborhood and the location of their deaths and related these results to the socioeconomic classification of the corresponding neighborhoods. In relation to the average infant mortality rate for the city, we could not make statistically significant comparisons for some neighborhoods due to their small number of births. One-third of the infant deaths could have been prevented with early diagnosis and treatment. Only 15% of the deaths were considered unavoidable. Both neonatal mortality and postneonatal mortality were geographically dispersed, with no direct association with the socioeconomic profile of the neighborhoods. An analysis of the children's place of residence and the location of their deaths showed flows of patients from poor areas to more affluent city areas with better health services. This pattern highlights the effect of access to quality medical care on infant mortality.