OBJETIVO: Analisar a evolução da experiência de cárie dentária entre escolares brasileiros no período de 1980 a 2003 e determinar a distribuição da cárie e o acesso dessa população ao tratamento da doença. MÉTODO: Foram utilizados dados secundários produzidos no período de 1980 a 2003, empregando o índice dentes permanentes cariados, perdidos e restaurados (CPOD). Os estudos que deram origem aos dados variaram quanto ao tipo de investigação, delineamento, plano amostral e critério diagnóstico para a doença, mas produziram estimativas nacionais consideradas válidas para os valores do índice CPOD, admitindo-se como possível a presente análise de tendência. RESULTADOS: Os valores de CPOD indicaram um nível alto de cárie dentária nos anos 1980, declinando para um nível moderado nos anos 1990. Em 2003, o valor do CPOD ainda era moderado (2,8). Entre 1980 e 2003, o declínio nos valores do CPOD foi de 61,7%. A porcentagem de escolares com CPOD igual a zero aumentou de 3,7% em 1986 para 31,1% em 2003. Por outro lado, enquanto no segmento menos atingido pela doença (CPOD de 1 a 3), o índice de cuidados aumentou de 26,3% em 1986 para 34,7% em 2003, no segmento com CPOD de 4 a 5 o índice de cuidados caiu de 50,2% em 1986 para 39,3% em 2003. No segmento com CPOD de 6 ou mais, o índice de cuidados se manteve estável (28.0%). Aproximadamente 20% da população passou a concentrar cerca de 60% da carga de doença. CONCLUSÃO: Um declínio relevante do CPOD foi observado no período do estudo, sendo a hipótese explicativa mais plausível a elevação no acesso a água e creme dental fluorados e as mudanças nos programas de saúde bucal coletiva. A despeito da melhora, a distribuição da cárie ainda é desigual. Os dentes atingidos por cárie passaram a se concentrar numa proporção menor de indivíduos. Ademais, não se alterou a proporção de dentes cariados não tratados. A redução das disparidades socioeconômicas e medidas de saúde pública dirigidas aos grupos mais vulneráveis permanecem como um desafio para todos os que formulam e implementam as políticas públicas no Brasil.
OBJECTIVE: To examine the caries situation in Brazilian schoolchildren between 1980 and 2003 and to determine the distribution of caries and access to treatment in this population group. METHODS: We employed secondary data concerning the number of decayed, missing or filled teeth (DMFT). The studies whose data were used differed in terms of study type, study design, sampling methods, and diagnostic criteria, but yielded national estimates that are considered valid for the DMFT index. Therefore, a trend analysis based on these studies was thought to be feasible. RESULTS: Analysis of DMFT values revealed a high frequency of dental caries in 1980 and a moderate frequency in the 1990s. In 2003, the DMFT index was still within the moderate range (2, 8). Between 1980 and 2003, a 61.7% decrease in DMFT frequency was observed. The percentage of children with no DMFT increased from 3.7% in 1986 to 31.1% in 2003. On the other hand, in the segment of the study population least affected, the percentage of children who received care increased from 26.3 in 1986 to 34.7 in 2003, yet in the group with DMFT this percentage fell from 50.2 in 1986 to 39.3 in 2003. In the segment with DMFT > 6, the percentage of those who received care remained stable (28%). During the study period, 60% of the dental caries were found in 20% of the study population. CONCLUSION: An important decline in DMFT was observed between 1980 and 2003, perhaps as a result of increased access to fluoridated water and toothpaste and of changes in the goals of public oral health programs. Despite the improvement, caries is unevenly distributed in the pediatric population; a small proportion of individuals carries most of the disease burden. In addition, the proportion of teeth with caries that went untreated did not change between 1980 and 2003. Reducing socioeconomic disparities and adopting public health measures that target and reach the most vulnerable groups remain a challenge for policy makers in Brazil.