Resumo O diagnóstico e o tratamento de câncer na infância exigem que a criança construa formas de enfrentamento, o que torna relevante compreender sua percepção e o modo como se organiza cognitivamente. O objetivo deste estudo foi caracterizar de que maneira os processos de hospitalização e tratamento são compreendidos pelos participantes diante da vivência de neoplasia infantil, considerando a etapa de desenvolvimento cognitivo e afetivo, de acordo com a perspectiva piagetiana. Foi realizada uma pesquisa qualitativa no ambulatório de oncologia pediátrica em um hospital da Baixada Santista, com entrevistas semiestruturadas, provas piagetianas e desenhos-estórias com tema, com uma amostra de conveniência de cinco crianças com entre 4 e 9 anos e com diagnóstico de leucemia. Os dados foram categorizados pela análise de conteúdo temática de Bardin (1988), as provas piagetianas de acordo com a teoria de Piaget e os desenhos-estórias a partir de Trinca (2002). Duas crianças (com 4 e 6 anos) se caracterizaram como pré-operatórias e três (com 8 e 9 anos) como operatórias concretas, sendo observado que as pré-operatórias apresentam um discurso com alta carga simbólica sobre o sofrimento da hospitalização e tratamento, enquanto crianças operatório-concretas demonstram domínio da noção de causa e consequência e pensamento lógico. Uma comparação qualitativa entre as provas piagetianas e os desenhos indicou coerência entre os tipos de avaliação. Todos os participantes mostram compreensão de sua atual situação de adoecimento e tratamento, apresentando diferentes formas de enfrentamento. Além disso, todos ressaltaram uma posição otimista em relação às perspectivas de cura, independentemente do momento do desenvolvimento cognitivo.
Abstract Diagnosing and treating childhood cancer requires children to develop coping strategies, indicating the need for understanding their perception and cognitive organization. Thus, this study aimed to understand how participants perceive the process of hospitalization and treatment for childhood neoplasia according to Piaget’s stages of cognitive and affective development. This is a qualitative study conducted with a convenience sample of five children aged between 4 and 9 years, diagnosed with Leukemia and treated at a pediatric oncology outpatient clinic in a hospital in Baixada Santista, São Paulo, Brazil. Data were collected using semi-structured interviews, Piagetian proofs, and thematic drawing-and-story procedure and analyzed in the light of Bardin’s Thematic Content Analysis (1988), Piaget’s theory, and Trinca’s theory (2002), respectively. Two children (4 and 6 years old) were characterized as preoperative and three (8 and 9 years old) as concrete operative. The discourse of preoperative children included high levels of symbolism regarding the suffering arising from hospitalization and the effects of treatment, while concrete-operative children demonstrated mastery of the notion of cause and consequence and logical thinking. A qualitative comparison between Piagetian Proofs and drawings showed consistency between the types of evaluation. All participants show an understanding of their current condition and treatment, presenting different forms of coping. They also highlighted an optimistic position regarding the prospects for healing, regardless of their cognitive development stage.
Resumen El diagnóstico y tratamiento de cáncer infantil requiere del niño la construcción de formas de enfrentamiento de la enfermedad, lo que hace relevante la necesidad de comprender su percepción y el modo cómo se organiza cognitivamente. Este estudio tuvo como objetivo caracterizar de qué manera el proceso de hospitalización y tratamiento por neoplasia infantil son comprendidos por los participantes, considerando su etapa de desarrollo cognitivo según la perspectiva piagetiana. Se realizó una investigación cualitativa en el ambulatorio de oncología pediátrica en un hospital de la Baixada Santista (Brasil), con entrevistas semiestructuradas, pruebas piagetianas y dibujos-historias con tema, con una muestra de cinco niños de entre 4 y 9 años de edad y con diagnóstico de leucemia. Los datos fueron categorizados por el análisis de contenido temático de Bardin (1988), las pruebas piagetianas de acuerdo con la teoría de Piaget y los dibujos-historias mediante Trinca (2002). Dos niños (con 4 y 6 años) se caracterizaron en la etapa preoperacional, y tres (con 8 y 9 años) en la de operaciones concretas, siendo observado que los niños en la etapa preoperacional presentan un discurso con alta carga simbólica sobre el sufrimiento de la hospitalización y tratamiento, mientras que niños en la de operaciones concretas tienen dominio de la noción de causa y consecuencia y pensamiento lógico. Una comparación cualitativa entre las pruebas piagetianas y los dibujos mostró coherencia entre los tipos de evaluación. Todos los participantes comprendían su actual situación de enfermedad y tratamiento, presentando diferentes formas de enfrentamiento. Además, todos resaltaron una actitud optimista en relación a las perspectivas de curación, independiente del momento del desarrollo cognitivo.