Este artigo problematiza o elenco de questões e de respostas que costumamos formular a respeito dos usos de drogas e propõe outro modo de pensar essas práticas. Sugere-se que já não é mais suficiente indagar "por que as pessoas usam drogas?" e "qual o significado do uso de drogas?", nem se contentar com as respostas que são apresentadas quando essas questões são colocadas, pois elas costumam concluir pelo "erro", pela "falta" ou pela "fraqueza". Propõem-se, então, outras questões: "o que ocorre em práticas como essas?", "que experiência usuários e substâncias realizam?". Conseqüentemente, propõem-se também outras respostas. Estas novas respostas apontam para a existência de eventos - as 'ondas' das drogas - que envolvem agenciamentos paradoxais de auto-abandono. Propõe-se que o evento 'onda' não resulta de fantasias subjetivas dos usuários, nem de determinações objetivas da substância, mas exige modalidades de (in)ação como aquelas presentes no paradoxo da paixão e nos jogos profundos. Sustenta-se que o evento 'onda' envolve modos singulares de engajamento no mundo, nos quais as substâncias são mediadores indispensáveis. Por fim, sugere-se que, em vez de se indagar quem controla a 'onda', cabe perguntar se ela ocorre ou não, ou, baseado em Gabriel Tarde, se há ou não alter-ação.
This article asks the cast of questions and answers that we usually formulate regarding the uses of drugs and take into account another way of thinking about these practices. It suggests that it is not enough to inquire "why do people use drugs?" and "which is the meaning of the drug's use?"; neither to be contented with the answers that are presented when these questions are placed, because they usually conclude by "mistake", "lack" or "weakness". It proposes other questions: "what happens with practices like these?", "what kind of experiences users and drugs realize?" Therefore, we also propose other answers. Those new answers point out the existence of events (the 'high' of drugs) that bring paradoxical agencies of self-abandon. The article propose that the 'high' event is not a by-product of users' subjective fantasies, neither a by-product of substances' objective determinations, but asks for modalities of (in)action such those present on the paradox of passion or on deep plays. It supports that the 'high' event points out singular ways of engaging in the world, ways where substances are indispensable mediators. Finally, it suggests that better than ask who controls the 'high' is to ask if the 'high' occurs or not, or, after Gabriel Tarde, if alteraction exists or not.