A utilização de consultas médicas por crianças foi estimada por inquérito domiciliar transversal, em amostra aleatória por conglomerados em múltiplos estágios, no município de São Luís, Maranhão, Brasil, em 1994. Foi aplicado questionário padronizado em entrevistas com 711 mães ou responsáveis por crianças de 3 a 59 meses de idade. Pretendeu-se identificar demanda reprimida, estudar alguns fatores associados à não realização de consultas e verificar se a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde) e a expansão da rede de ambulatórios públicos reduziram a desigualdade na utilização dos serviços de saúde. Mais de dois terços, 67,2% das crianças realizaram consulta médica com finalidade curativa no último trimestre. Destas, 74,9% foram atendidas no SUS. Um percentual muito reduzido, 0,7%, procurou e não obteve consultas, caracterizando baixa repressão à demanda. Após o ajuste para fatores de confusão, pela regressão de Cox adaptada para estudos transversais, os fatores predisponentes, como escolaridade materna, sexo e idade da criança, idade materna, número de irmãos e ocupação do chefe de família explicaram pouco a não realização de consultas. Os fatores facilitadores, como renda familiar e posse de seguro-saúde, não foram preditores. O preditor mais importante da não realização de consultas foi a não necessidade, pois as crianças cujas mães referiram não estar doentes apresentaram maior risco de não serem consultadas. A expansão do atendimento público contribuiu para reduzir ou anular o peso das diferenças sociais na utilização de consultas curativas.
Children outpatient health care utilization was estimated by a cross-sectional household survey using multi-stage cluster sampling in the city of São Luís, in the State of Maranhão, Brazil. 711 mothers or caretakers of children aged from 3 to 59 months answered a standardized questionnaire. The aim was to study factors associated with non-consultation and verify if the National Health Service (SUS) implementation and public outpatient care expansion reduced inequality in the use of health services. More than two thirds, 67.2% of the children, had been seen by a physician when sick in the previous trimester. The National Health Service funded 74.9% of the services. A low percentage, 0.7%, did not get an appointment, indicating that very few cases remained unattended to. After adjustment for confounding factors by means of the Cox proportional hazards model modified for cross-sectional design, predisposing factors, i.e. maternal education, child age and gender, maternal age, number of siblings, and head of household's occupation explained little of the non-consultation rate. Enabling factors, i.e. family income and health insurance did not predict non-consultation. The main predictor for not having an appointment was not needing medical care, because healthy children were at a greater risk of not visiting a doctor.