O objetivo deste trabalho foi estimar a prevalência do uso de silicone líquido industrial (SLI) entre pessoas travestis e mulheres transexuais e identificar os fatores relacionados a esta prática. Trata-se de estudo transversal realizado em sete municípios do Estado de São Paulo, Brasil, com dados coletados entre 2014 e 2015, em uma amostra de 576 pessoas. Na análise dos fatores associados, utilizamos o modelo de Poisson com variância robusta para estimar as razões de prevalências bruta e ajustada. A prevalência do uso de SLI foi de 49%, a média de idade para a primeira colocação de SLI foi de 22 (± 5,3) anos e aproximadamente 43% informaram a ocorrência de problemas de saúde decorrente do uso. No modelo múltiplo ter escolaridade menor que o nível superior, estar em faixa etária a partir dos 20 anos, identificar-se como travesti e exercer a prostituição foram associados positivamente com a utilização de SLI. Houve uma elevada prevalência do uso de SLI e de problemas decorrentes desta prática, indicando um desafio acerca da prevenção do uso e da redução dos danos à saúde provocados pelo SLI. Dessa forma, torna-se fundamental assegurar o acesso aos recursos necessários para a realização das modificações corporais ao longo do percurso de transição por meio de uma atenção integral à saúde das pessoas travestis e transexuais no Sistema Único de Saúde. Finalmente, incluir nas políticas de saúde as demandas por modificações corporais como parte da construção da identidade de gênero, respeitando as necessidades singulares de cada pessoa neste processo de transição.
This study aimed to estimate the prevalence of use of industrial liquid silicone (ILS) among transvestite persons and transsexual women and identify associated factors. This was a cross-sectional study in seven municipalities in São Paulo State, Brazil, with data collected in 2014 and 2015 in a sample of 576 individuals. Analysis of the associated factors used a Poisson model with robust variance to estimate the crude and adjusted prevalence ratios. Prevalence of use of ILS was 49%, mean age at first injection of ILS was 22 (± 5.3) years, and 43% reported health problems resulting from its use. Having less than a university education, age 20 years and older, self-identification as transvestite, and sex work were positively associated with use of ILS according to the multivariate model. There was a high prevalence of ILS use and resulting health problems, indicating the need to prevent its use and reduce the resulting health problems. It is thus essential to ensure access to the necessary resources for body changes during transition through comprehensive care for transvestites and transsexual persons in the Brazilian Unified National Health System (SUS). Finally, health policies should include demands for body changes as part of gender identity construction, respecting each person’s unique needs in this transition process.
El objetivo de este trabajo fue estimar la prevalencia del uso de silicona líquida industrial (SLI) entre personas travestis y mujeres transexuales e identificar los factores relacionados con esta práctica. Se trata de un estudio transversal, realizado en siete municipios del estado de São Paulo, Brasil, con datos recogidos entre 2014 y 2015, en una muestra de 576 personas. En el análisis de los factores asociados, utilizamos el modelo de Poisson con variancia robusta para estimar las razones de prevalencias bruta y ajustada. La prevalencia del uso de SLI fue de un 49%, la media de edad para la primera colocación de SLI fue de 22 (± 5,3) años y, aproximadamente, un 43% informaron la ocurrencia de problemas de salud derivada de su uso. En el modelo múltiple tener escolaridad inferior al nivel superior, estar en una franja de edad a partir de los 20 años, identificarse como travesti y ejercer la prostitución estuvieron asociados positivamente con la utilización de SLI. Hubo una elevada prevalencia del uso de SLI y de problemas derivados de esta práctica, indicando un desafío acerca de la prevención del uso y de la reducción de los daños a la salud provocados por el SLI. De esta forma, es perentorio asegurar el acceso a los recursos necesarios para la realización de las modificaciones corporales a lo largo de la duración de esta transición, mediante una atención integral a la salud de las personas travestis y transexuales en el Sistema Único de Salud. Finalmente, incluir en las políticas de salud las solicitudes de modificaciones corporales como una parte de la construcción de la identidad de género, respetando las necesidades singulares de cada persona en este proceso de transición.