RESUMO Introdução As estratégias de raciocínio clínico têm como fundamento teórico os modelos hipotético-dedutivo e indutivo. O primeiro se baseia na geração de hipóteses a partir do conhecimento acerca das patologias, e o segundo, em generalizações com base nos dados do caso ou reconhecimento de padrão. O pensamento de um médico ou estudante pode ser avaliado por meio da técnica think aloud (TTA). Objetivos Identificar as estratégias de raciocínio clínico e a organização e conteúdo do conhecimento de acadêmicos de Medicina na resolução de um caso clínico protótipo em Clínica Médica por meio da aplicação da TTA. Método Estudo qualitativo realizado com estudantes de graduação em Medicina no final do ciclo básico em uma universidade pública brasileira ao longo de 2014. A partir da teoria dos protótipos e da percepção de 41 alunos sobre sinais, sintomas, síndromes e doenças típicas na Clínica Médica, construiu-se um caso clínico. A TTA foi aplicada individualmente a 30 estudantes, sorteados da amostra inicial, para obter a gravação em áudio da verbalização do processo de raciocínio frente ao caso apresentado. A transcrição das falas permitiu avaliar os textos por análise de conteúdo e identificar os processos de interpretação e combinação, bem como categorizar as estratégias de raciocínio. Foram ainda identificados os eixos semânticos, que foram classificados nas categorias de sintomas, sinais, síndromes, doenças, dados factuais e processos. Resultados Foram elaboradas 105 hipóteses diagnósticas principais (HDP), de 12 tipos distintos, identificadas como primárias, e 12 como secundárias, com média de 3,5 hipóteses principais por aluno. Na elaboração das HDP, predominou a estratégia Esquema-Indutivo (E-I) = 42,3%, seguida pelo Reconhecimento de Padrão (R-P) = 21,2%, Mista E-I (15,4%), Mista R-P (10,6%) e Hipotético-Dedutiva (10,6%). Quanto a organização e conteúdo do conhecimento, houve média de 12,9 eixos semânticos por aluno, 20,9 processos de interpretação e 6,8 de combinação. Conclusões A estratégia de raciocínio indutiva é predominante na elaboração de HDP entre acadêmicos de Medicina no final do ciclo básico. Os alunos apresentam uma rede semântica sólida e habilidade nos processos de interpretação, mas reduzida capacidade de associação quando comparados a médicos experientes.
ABSTRACT Introduction Clinical reasoning strategies (CR) employ hypothetical-deductive and inductive models as their theoretical basis. The first is based on the generation of hypotheses derived from a knowledge of pathologies and the second on a generalization derived from data on the case or an identification of a pattern. Doctors’ or students’ thoughts may be evaluated by the “think aloud” technique (TAT). Objectives To identify the CR strategies used by medical students at the end of the basic cycle, as well as the organization and contents of their knowledge, analyzing an internal medicine prototype clinical case by means of the TAT. Method A qualitative study was conducted on undergraduate medical students at the end of the basic cycle in a Brazilian university in 2014. The theory of prototypes served as the basis for building the clinical case, based on 41 students’ perceptions of signs, symptoms, syndromes, and diseases typical of internal medicine. The TAT was individually applied to 30 randomly selected students in the original sample, in order to obtain an audio record of the verbalization of their reasoning processes in light of the case presented. A transcript of the speeches allowed us to evaluate the texts by means of content analysis, and to categorize the reasoning techniques employed. Semantic axes were also identified and subsequently categorized into six classes: symptoms, signs, syndromes, diseases, factual data, and processes. Results A total of 105 diagnostic hypotheses were created, in which 12 different types were identified as primary and 12 as secondary, with a mean of 3.5 principal hypotheses per student. The most commonly used reasoning style for developing the PDH was scheme-inductive (SI) = 42.3%, followed by pattern recognition (PR) = 21.2%, mixed SI (15.4%), mixed PR (10.6%), and hypothetic-deductive (10.6%). As for knowledge organization and content, a mean of 12.9 semantic axes was recorded per student, with 20.9 interpretation processes per student and 6.8 combination processes per student. Conclusions The inductive reasoning strategy is the most commonly used for developing PDHs among medical students at the end of the basic cycle. Students revealed a solid semantic network and skills in interpretation processes; however their combined abilities were limited when compared to those of experienced doctors.