Resumo Para os estudos sobre a memória, a lembrança e o esquecimento são processos sociais, sendo parte dos discursos de memória que condicionam as disputas sociais e políticas. Dentre os fatores que caracterizam as disputas de memória, pode-se acrescentar, nas últimas décadas, o surgimento das tecnologias digitais. Este artigo busca compreender a relação entre as novas tecnologias e os processos de lembrança e esquecimento na esfera pública contemporânea. Percebendo uma dissolução da esfera pública em torno a antagonismos diversos, muitos deles identitários, o estudo parte para o entendimento do impacto das tecnologias digitais sobre os discursos de memória. Seu argumento é que essas tecnologias aproximam e sobrepõem as categorias de ars e uis, que constituem os dois modos da memória, segundo a teorização de Aleida Assmann. Por fim, as duas vertentes da argumentação se encontram na abordagem das controvérsias nas redes sociais como disputas de memória. Procura-se compreendê-las a partir da problemática do perdão, propondo-se que o perdão e a controvérsia são homólogos estruturalmente, mas ocorrem em sentido inverso; dessa forma, se ambos demonstram a permanência do passado no presente, na controvérsia é a dificuldade da vítima conceder o perdão que lhe fornece a chance de retomar sua agência.
Abstract For memory studies, remembering and forgetting are social processes, part of larger memory discourses that play a relevant role in social and political struggles. Among the factors that condition those memory claims, it is possible to mention the development of digital technologies. These contributions seek to understand the relation between digital technologies and the processes of remembering and forgetting in contemporary public sphere. It starts noticing the dissolution of the public sphere among various antagonisms, many of them identity issues, then analyzing the impact of digital technologies upon memory discourses. Its main argument here is that these technologies both bring together and juxtapose the concepts of ars and uis, storage and remembrance, as established by Aleda Assmann. It concludes studying social media controversies as memory claims, trying to understand them through the problem of forgiving. It proposes that forgiving and online controversies share a structural resemblance, but function in opposite directions; thus, if both demonstrate the permanence of the past in the present, in online controversies it is also the victim’s difficult in forgiving that gives her a chance to recouple her agency.