Resumo Este artigo trata das políticas de saúde pública para os povos indígenas do Brasil, enfocando as relações de violência observadas pelos autores durante sua pesquisa. Chamamos a atenção para os diferentes tipos de violência através de uma análise que articula o trabalho de campo sobre atenção primária à saúde em áreas indígenas com observações de negociações políticas sobre questões de saúde envolvendo líderes indígenas e funcionários públicos. Há, por um lado, a violência simbólica que pode ser observada nas interações cotidianas entre as/os trabalhadoras/es da saúde e as/os pacientes indígenas e, por outro, as contradições de uma retórica política oficial que afirma a autoridade indígena e, em seguida, a descarta sistematicamente quando as decisões que envolvem saúde pública são colocadas em prática. A pesquisa combina diferentes estratégias metodológicas (trabalho intensivo de campo, pesquisa sobre documentos de políticas públicas, observação participante de encontros políticos, entrevista com indígenas e gestores etc.) para estabelecer correlações entre violência interpessoal e violência estrutural ao longo dos processos democráticos de construção de políticas públicas na saúde indígena. Nessa perspectiva, o artigo aborda a violência no setor saúde além dos indivíduos e suas intenções; propõe que a violência em saúde seja interpretada no contexto de uma discussão mais ampla sobre a construção da cidadania indígena que articula a tutela e a participação política nas políticas de saúde no Brasil.
Abstract This article concerns public health policies for the Indigenous peoples of Brazil, focusing on relations of violence observed by the authors during their research. We draw attention to different types of violence through an analysis that articulates fieldwork on primary health care in Indigenous Areas with observations of political negotiations concerning health issues involving Indigenous leaders and government workers. There is, on the one hand, the habitual symbolic violence that can be observed in daily interactions between health workers and Indigenous patients, and, on the other, the contradictions of an official political rhetoric that assents to Indigenous authority and then systematically dismisses it when decisions that involve public health are put into practice. The research combines different methodological strategies (intensive fieldwork, research on public policy documents, participant observation of political meetings, interview with indigenes and managers, etc.) to establish correlations between interpersonal violence and structural violence along democratic processes of public policies building in Indigenous health. From this perspective, the paper addresses the violence in health sector beyond the individuals and their intentions; it proposes that violence in health must be interpreted against the backdrop of a broader discussion on the construction of Indigenous citizenship that articulates tutelage and political participation in the politics of health practices in Brazil.