Resumo O argumento central do artigo é que a definição da função social da propriedade é inerentemente contraditória e conflitiva, podendo servir tanto aos agentes do mercado imobiliário quanto às classes populares. O Estado busca gerir este conflito por meio de mecanismos seletivos que definem, em cada situação, qual o seu conteúdo e desfecho. Para esta reflexão, toma-se como objeto a destinação dos terrenos públicos da União na Operação Urbana Consorciada (OUC) Porto Maravilha. Neste caso, busca-se mostrar que esse conflito foi resolvido em prol do mercado imobiliário, implicando a suspensão temporária da lógica arrecadatória, que marca a atuação da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), para viabilizar o modelo financeiro da operação urbana, expressando-se na privatização de terras públicas na área portuária. Nesse contexto, a prevalência da lógica destinatória não foi capaz de viabilizar projetos destinados para Habitação de Interesse Social, que não saíram do papel. Não obstante, a privatização dos terrenos públicos ainda não se mostrou capaz de alavancar o interesse do mercado imobiliário na região, permanecendo incerto o futuro do Projeto Porto Maravilha.
Abstract The central argument of the work is that the definition of the social function of property is inherently contradictory and conflictive and can serve both real estate market agents and the grassroots classes. The State seeks to manage this conflict by means of selective mechanisms that define, in each situation, its content and outcome. Thus, it targets the destination of the public land owned by federal government in the region of Porto Maravilha Urban Consortium Operation. In this case, this study aims to show that this conflict was sorted out in favor of the real estate market, which implied the temporary suspension of the rent seeking rationale that marks the action of the Union's Patrimony Secretariat - SPU, and enabled the financial model of the urban operation, resulting in privatization of public lands in the port area. At the same time, the prevalence of the Social destination of public land rationale was not able to make viable projects for Social Housing. Nevertheless, privatization of public land has not yet been able to leverage the interest of the real estate market in the region and the future of the Porto Maravilha Project remains uncertain.