Entre 1992 e 1997 foram avaliados, ambulatorialmente, 790 doadores de sangue com teste anti-HCV EIA-2 fortemente reagente (relação entre a densidade ótica da amostra / "cut-off" > 3), que haviam sido detectados na triagem sorológica do banco de sangue. Todos eram negativos para doença de Chagas, sífilis, hepatite B (HBsAg) e AIDS. Amostras de sangue foram coletadas, na primeira consulta ambulatorial, para a realização de hemograma, exames bioquímicos e novos testes sorológicos para a HVC (anti-HCV EIA-2). Em 226 doadores anti-HCV EIA-2 repetidamente reagentes, realizou-se o teste suplementar de "immunoblot" para a HVC (RIBA-2). Em 209 doadores, pesquisou-se a presença do RNA do VHC pelo teste do PCR, através de exame automatizado (HCV-AMPLICOR, ROCHE). A ultra-sonografia abdominal foi realizada em 366 doadores e a biópsia hepática em 269 concordantes. Notou-se que 95,6% eram EIA-2 repetidamente reagentes, 94% eram assintomáticos e que apenas 2% referiram icterícia pregressa. Em 47% detectou-se, pelo menos, um fator de risco para a transmissão do VHC, sendo o uso de drogas E.V. o principal deles (27,8%). A transfusão de sangue foi o segundo fator na transmissão da HVC (27,2%). Hepatomegalia foi encontrada em 54%. Esplenomegalia e sinais de hipertensão portal foram raramente encontrados no exame físico, denotando o baixo grau de comprometimento hepático na HVC. A ultra-sonografia abdominal mostrou-se alterada em 65% dos indivíduos, sendo a esteatose a alteração mais freqüentemente observada (50%). Em 83,5% dos doadores submetidos à biópsia hepática, diagnosticou-se hepatite crônica, geralmente classificada como ativa (89%) e de grau leve ou moderado na maioria dos casos (99,5%). O histopatológico foi normal em 1,5% dos doadores. O teste de RIBA-2 e a pesquisa do RNA do VHC pelo PCR foram positivos em, respectivamente, 91,6 e 75% dos doadores anti-HCV EIA-2 reagentes. A pesquisa do RNA do VHC foi positiva em 82% dos indivíduos RIBA-2 reagentes, em 37,5% dos doadores RIBA-2 indeterminados e em 9% dos RIBA-2 negativos. Hepatite crônica foi observada em 50% dos doadores RIBA-2 indeterminados. Entre 18 doadores com alterações mínimas, ao exame histopatológico, 11 (61%) eram positivos para o RNA do VHC. Nossos doadores de sangue anti-HCV reagentes geralmente apresentam alterações clínicas, laboratoriais e histopatológicas próprias de pacientes com hepatites crônicas pelo VHC e uma elevada proporção destes podem ser identificados em entrevistas e avaliação médicas rotineiramente realizadas em bancos de sangue. Geralmente estes doadores infectados pelo VHC somente são identificados e bloqueados pelos resultados dos testes sorológicos.
Between 1992 and 1997, 790 blood donors with anti-HCV EIA-2 strongly reagent (relationship between the sample optical density/cut-off > 3) detected at the blood bank serological screening, were evaluated in ambulatory environment. They were all negative for Chagas disease, syphilis, hepatitis B (HBsAg) and AIDS. Blood samples were collected at the first ambulatorial evaluation, for hemogram, biochemical tests and new serological tests for HCV (anti-HCV EIA-2). In blood samples of 226 repeatedly reagent anti-HCV EIA-2 blood donors, supplementary "immunoblot" test for HCV (RIBA-2) was used. In 209 donors, the presence of HCV-RNA was investigated by the PCR test. The abdominal ultrasonography was realized in 366 donors. In 269 patients liver biopsy was performed for the histopathological study. The follow-up of blood donors showed that 95.6% were repeatedly EIA-2 reagent, 94% were symptomless and denied any hepatitis history, with only 2% mentioning previous jaundice. In 47% of this population at least one risk factor has been detected for the HCV transmission, the use of intravenous drugs being the main one (27.8%). Blood transfusion was the second factor for HCV transmission (27.2%). Hepatomegaly was detected in 54% of the cases. Splenomegaly and signs of portal hypertension have seldom been found in the physical examination, indicating a low degree of hepatic compromising in HCV. Abdominal ultrasound showed alterations in 65% of the subjects, being the steatosis the most frequent (50%). In 83.5% of the donors submitted to the liver biopsy, the histopathological exam showed the presence of chronic hepatitis, usually classified as active (89%) with mild or moderate grade in most of the cases (99.5%). The histopathological exam of the liver was normal in 1.5% of blood donors. The RIBA-2 test and the HCV-RNA investigation by PCR were positive in respectively 91.6 and 75% of the anti-HCV EIA-2 reagent donors. The HCV-RNA research was positive in 82% of the RIBA-2 positive subjects, in 37.5% of the indeterminate RIBA-2 donors and in 9% of the negative RIBA-2 donors. Chronic hepatitis has also been observed in 50% of the histopathological exams of the anti-HCV EIA-2 reagent donors which were indeterminate RIBA-2. Among 18 blood donors with minimal changes histopathological exam 11 (61%) were HCV-RNA positive. Our blood donors anti-HCV reagent generally had clinical, laboratorial and histopathological features observed in patients with chronic HCV hepatitis and a high proportion could be identified in interviews and medical evaluation realized in blood blanks. Generally, these HCV infected donors are identified and discharged only by the serological tests results.