Este trabalho foi realizado em três comunidades de pescadores artesanais de Ilhabela, localizadas no litoral norte do Estado de São Paulo, Brasil. O objetivo foi analisar as preferências, os tabus e as indicações medicinais dos peixes e, desta forma, representar as interações dos pescadores com os recursos pesqueiros, visando entender os aspectos biológicos e culturais envolvidos. A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas com o auxílio de questionários semi-estruturados. Foram entrevistadas 25 famílias, das 29 residentes nas três comunidades estudadas durante a coleta de dados, sendo que 5 delas foram realizadas na Praia do Jabaquara, 6 na Praia da Fome e 14 na Praia da Serraria. Foram citadas 18 consideradas preferidas para o consumo, 11 espécies consideradas como tabus, 5 espécies evitadas e 4 indicadas no caso de doenças. As famílias de pescadores preferem consumir peixes de escama e não consomem o baiacu, este último provavelmente devido a sua característica tóxica. Peixes como bonito, espada, cação, sororoca e cavala são evitados em casos como feridas, inflamações, gravidez e pós parto e outros como pirajica, marimba, anchova e garoupa são indicados como peixes medicinais nestas situações. Aspectos relativos ao consumo de pescado fazem parte do corpo de conhecimento dos pescadores e suas famílias e constituem um acervo rico de informações que somadas as informações biológicas são úteis para a conservação dos recursos pesqueiros. Dados como os apresentados nesse estudo, com relação ao uso de animais aquáticos para tratamento de doenças, podem servir de base para estudos futuros sobre substâncias que contenham elementos ativos na cura de doenças.
This study was conducted in three communities of artisanal fishermen from Ilhabela, located on the northern coast of São Paulo, Brazil. The objective was to analyze the preferences, taboos and medicinal indications of fish and thus representing one of the interactions of fishermen with fish stocks. Data collection was conducted through interviews with the aid of semi-structured questionnaires. We interviewed 25 families, 29 residents in three communities studied during our fieldwork for data collection. Five interviews were done in Jabaquara Beach, 6 in Fome Beach and 14 Serraria Beach. During the interviews, 18 species were cited as preferred for consumption, 11 species considered to be taboo (food prohibited), 5 species were cited as avoided as food, and 4 species indicated in case of illness. The families of fishermen prefer to consume finfish and do not consume puffer fish, the latter probably due to its toxic characteristic. Fish such as little tunny, largehead hairtail, shark, serra mackerel and king mackerel are avoided by unhealthy people and in cases of wounds, inflammation, pregnancy and postpartum. Other fish, such as sea chubs, silver porgy, bluefish and grouper are reported as medicinal in these situations. Aspects related to fish consumption are part of the knowledge of fishermen and their families and provide a wealth of information that combined to biological information is useful for the conservation of fishery resources. Data such as those presented in this study, regarding the use of aquatic animals for treatment of diseases, could serve as a basis for future studies on substances that contain active elements in curing diseases.