O artigo analisa os modos pelos quais jovens “egressas” de serviços de acolhimento institucional (abrigos, casas-lares) inventam novas possibilidades de vida, sob condições que a princípio reforçariam sua vulnerabilidade e falta de potência. A análise tem como base a etnografia realizada sobre as experiências de desinstitucionalização de jovens de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul entre 2010 e 2013. As experiências de desinstitucionalização dessas jovens poderiam ser pensadas a partir das lacunas deixadas pelas políticas de proteção após o desacolhimento. No entanto, por mais que essas experiências sejam marcadas por “uma espécie de improvisação contínua”, tal dinâmica revela mais do que uma simples “tática de sobrevivência”. Assim, a proposta é pensar esses modos de vida com base na chave analítica da invenção (Roy Wagner). Dentre as vias para a invenção, destacam-se o cuidado com os filhos, as maneiras como subvertem os modos de ação das políticas assistenciais e a descoberta do que sabem e gostam de fazer.
This paper analyzes the ways in which young female“care leavers” (from shelters, foster homes) invent new life possibilities under conditions that,at first, could reinforce their vulnerability and lack of power. The analysis is based on an ethnographicstudy carried out between 2010 and 2013 and focuses on the deinstitutionalization of young women from Santa Catarina and Rio Grande do Sul. These young women’sexperiences of deinstitutionalization could be considered from the perspective of the gaps left by the protection policies after departing from foster care. However, as much as these experiences are marked by “a kind of continuous improvisation,” such strategy does reveal more than a simple “survival tactics”. Thus, the idea is to reflect upon these ways of lifeunder thelight of the analytical key of “invention”, as proposed by Roy Wagner. Among the pathways for invention, we highlight the upbringing of children, the manner with which these young women subvert the dynamics of welfare policies and the discovery of what they know and like to do.
Cet article analyse les façons par lesquelles les jeunes filles « ex-pris en charge » des services d’accueil institutionnels (foyers, foyers d’accueil), inventent de nouvelles possibilités de vie, dans des conditions qui, à principe, renforceraient leur vulnérabilité et leur manque de puissance. L’analyse s’appuie sur l’ethnographie réalisée à partir d’expériences de désinstitutionalisation de jeunes des États de Santa Catarina et de Rio Grande do Sul entre les années 2010 et 2013. Les expériences de la désinstitutionalisation de ces jeunes filles pourraient être considérées à partir des lacunes laissées par les politiques de protection suite à leur renvoi des établissements d’accueil. Néanmoins,malgré le fait que ces expériences soient marquées par « une sorte d’improvisation continue », cette dynamique révèle plusqu’une simple « tactique de survie ». Ainsi, nous proposons de réfléchir à ces modes de vie à partir de la clé analytique de l’invention (Roy Wagner). Parmi les voies vers l’invention, citons le soin avec leurs enfants, les diverses façonsde renverser les modes d’action des politiques sociales et la découverte de ce qu’elles savent et aiment faire.