OBJETIVO: avaliar a eficácia, a segurança e os benefícios do uso do cateter de derivação vésico-amniótico no tratamento intra-uterino das uropatias obstrutivas. MÉTODOS: análise retrospectiva dos registros de 35 fetos portadores de uropatia obstrutiva, acompanhados em um centro de Medicina Fetal, no período compreendido entre 1990 e 2004, tratados pela insersão do cateter de derivação vésico-amniótica. As pacientes consentiram em submeter-se ao procedimento. Os casos selecionados seguiram os seguintes critérios de inclusão: gestação única; idade gestacional até 32 semanas; ausência de outras malformações; cariótipo normal; ultra-sonografia mostrando lesão obstrutiva no trato urinário, bilateral ou unilateral com comprometimento do rim contralateral, caracterizando hidronefrose (diâmetro ântero-posterior da pelve maior que 10 mm), associada ou não a megaureter e megabexiga; oligoâmnio, dado por índice de líquido amniótico menor que 8; função renal normal, dada por critério ecográfico (aspecto dos rins à ecografia) e por estudo bioquímico da urina fetal (osmolaridade). Considerou-se normal a osmolaridade de até 210 mOsm como indicativo de função renal preservada. Após o nascimento foram acompanhados pelo setor de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Os neomortos ou natimortos foram encaminhados para o setor de Anatomia Patológica. Foi realizada análise descritiva dos seguintes parâmetros: diagnóstico pré-natal da uropatia, idade gestacional à insersão do cateter, tempo de permanência do cateter, complicações pós-procedimento, mortalidade perinatal e sobrevida neonatal. RESULTADOS: a válvula de uretra posterior foi a uropatia mais freqüente (62,8%). A idade gestacional média da insersão do cateter foi 26,1 semanas. O tempo médio de permanência do cateter após a colocação até o parto foi de 46 dias (variando entre um e 119 dias). Ocorreram 4 mortes fetais e 17 mortes neonatais (mortalidade perinatal de 60%). A principal causa dos óbitos foi a hipoplasia pulmonar. O oligoidrâmnio esteve presente em 33 dos 35 fetos acompanhados (94,3%), tendo sido revertido em 23 casos (70%), dos quais 14 sobreviveram ao período neonatal. Há 4 crianças em acompanhamento no setor de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Duas estão em diálise peritoneal, com expectativa de transplante renal, e duas apresentam-se com função renal preservada, com idades variando entre 2 meses e 4 anos. CONCLUSÃO: a derivação vésico-amniótica apresenta-se como uma alternativa viável de tratamento intra-uterino das uropatias graves, apresentando índice de sobrevida neonatal de 40% entre fetos que provavelmente evoluiriam para o óbito. Entretanto, o sucesso do procedimento esteve diretamente relacionado com a adequada seleção dos fetos e a precocidade da intervenção intrauterina, isto é, restringindo o procedimento àqueles fetos com menos de 32 semanas, com obstrução bilateral, sem malformações associadas e com função renal ainda preservada. A reversão do oligoidrâmnio não garantiu melhor prognóstico neonatal. Permanece controverso se a derivação vésico-amniótica é capaz de garantir a função renal preservada a longo prazo.
PURPOSE: to analyze the efficacy, safety and real advantage of vesicoamniotic shunt catheter in the intrauterine treatment of obstructive uropathy. METHODS: a retrospective and descriptive study, in which the evolution of 35 fetuses with obstructive uropathy, submitted to vesicoamniotic shunt from 1990 to 2004 in a Fetal Medical Center was evaluated. All these fetuses fitted the selection criteria defined by a protocol of this service, and had the parents' consent for the procedure. The Pediatric Nephrology Sector of the Hospital das Clínicas of UFMG assessed all of them after delivery to confirm the prenatal diagnosis and outcome. The dead neonates were studied by the Pathological Anatomy Sector of UFMG. Descriptive analysis of the following parameters was performed: prenatal diagnosis of the uropathy, gestational age at shunt insertion, time of catheter utilization, post-surgery complications, perinatal mortality and neonatal survival. RESULTS: posterior urethral valve was the most common uropathy (62.8%). The mean gestational age at the vesicoamniotic shunt placement was 26.1weeks and the mean time of its presence was 46 days (1-119 days). There were four intrauterine fetal deaths and 17 in the neonatal period (60% perinatal mortality). The main cause of death was pulmonary hypoplasia. Olygohidramnios was present in 33/35 fetuses (94.3%) and it was reversed in 23 of them (70%); fourteen fetuses survived the neonatal period. At present, there are 4 children followed up by the Pediatric Sector of Nephrology of Hospital das Clínicas. Two of them have been treated with peritoneal dialysis, awaiting renal transplantation. The other two have normal renal function. Their age varies from 2 months to 4 years. CONCLUSION: the vesicoamniotic shunt may be a viable intrauterine treatment for severe obstructive uropathy, with 40% of survival rate of fetuses that might have progressed to death. However, the procedure's success was directly related to the adequate selection, and to the early intervention in the uterus, performed before 32 weeks of gestation in fetuses with bilateral obstruction, without any associated malformation and with still preserved renal function. Olygohidramnios reversion did not guarantee a good prognosis. It remains controversial if the vesicoamniotic shunt can really ensure long-term renal function.