A lontra neotropical Lontra longicaudis (Olfers, 1818) (Carnivora: Mustelidae) é uma espécie semiaquática distribuída em toda a América Central e do Sul, exceto no Chile. Utiliza cavidades na margem do rio ou espaços entre a vegetação densa como abrigos e defeca em locais conspícuos como função de marcação territorial. O estudo foi realizado entre Abril de 2008 a Março de 2009 e teve como objetivo comparar e correlacionar a frequência de utilização dos abrigos e sítios de marcações das lontras com fatores de obstrução foliar vertical, altura, distância, grau de distúrbio e tipo de estrutura/substrato em um ambiente lótico (riacho Sapé, estado de São Paulo, Brasil) e um semilótico (reservatório da hidrelétrica de Canoas I, Vale do Paranapanema, estados de São Paulo e Paraná, Brasil). Constatou-se nesse estudo que os abrigos das lontras apresentaram diferenças na proteção visual em cada ambiente; que, no reservatório, utilizam mais intensamente áreas com maior grau de distúrbio e são seletivas quanto ao tipo de estrutura dos abrigos; enquanto, no riacho, as lontras demarcam preferencialmente áreas com maior obstrução vegetal. Nossos resultados permitem-nos enfatizar que outros fatores abióticos, bióticos ou denso-dependentes (número populacional e competições intra e interespecífica, por exemplo) podem ser responsáveis pela diferença na escolha das lontras pelos locais usados como abrigos e para marcações entre os dois ambientes, porém, não foram identificados nesse estudo. Além disso, a diferença no número de amostras obtidas em cada ambiente pode ter prejudicado as análises estatísticas. Conclui-se que a espécie mostra plasticidade ao ambiente alterado do reservatório, utilizando abrigos e depositando marcações conforme as condições impostas, obtendo vantagens, sempre que possível, das facilidades em captura de alimento oferecidas por este ambiente. No entanto, as lontras ainda apresentam certa dependência por áreas de vegetação preservada, onde encontram melhores condições de abrigo e marcação.
The Neotropical otter Lontra longicaudis (Olfers, 1818) (Carnivora: Mustelidae) is a semi-aquatic species spread throughout Central and South America, except Chile. It uses cavities on the river banks or spaces amidst dense vegetation as shelter and defecates in conspicuous places as a means of territorial marking. The study was conducted between April 2008 and March 2009, aiming to compare and correlate the frequency of shelter use and marking by the otters, considering vertical vegetation cover, height, distance, disturbance degree and type of structure/substrate factors, in a lotic environment (Sapé stream, São Paulo state, Brazil) and a semi-lotic environment (Canoas I hydroelectric reservoir, Paranapanema Valley, São Paulo and Paraná states, also in Brazil). The aim was to compare and correlate the frequency of shelter use and marking by the otters, considering factors like vertical vegetation cover, height, distance, degree of disturbance and type of structure/substrate in two areas. It was evidenced that the otter's shelters show visual protection differences in each environment. Around the reservoir, the otters make greater use of areas with higher degrees of disturbance and are selective about the type of shelter structure. Along the stream, the otters favor areas with greater vegetation cover to demarcate. Our results warrant emphasis that other abiotic, biotic or density dependent factors (population number and intra or interspecific competition, for example) may be responsible for the otters' different choice of sites used for shelters and markings in the two environments but they were not identified in this study. Moreover, the different number of samples obtained in each location may have harmed the statistical analyses. However, based on the results, we were able to conclude that the species is able to adapt to the altered environment of the reservoir, using shelters and depositing markings according to the imposed environmental conditions and, whenever possible, it takes advantage of the facilitated food capture offered by environment. Nevertheless, the otters still present some dependence on areas with preserved vegetation, where they find sites with better shelter and marking conditions.