RESUMO Objetivo: apreender formas de resistência utilizadas por crianças e adolescentes em um cotidiano familiar de abuso sexual. Método: pesquisa qualitativa desenvolvida em um Centro de Atendimento à Mulher em Situação de Violência no semiárido de Pernambuco, com dados coletados entre junho e novembro de 2014 por meio de entrevista com nove mulheres. O processo de análise fundamentou-se em noções da Sociologia Compreensiva e do Cotidiano, com dados organizados por afinidade, interpretados e categorizados. Resultados: emergiram as categorias: ritualização do abuso sexual de crianças e adolescentes no cotidiano familiar: aceitação da vida pela passividade; camuflagens para sobreviver ao vivido de abuso sexual: silêncio, astúcia e duplo jogo; e, entre o oculto e a revelação do abuso sexual. Pode-se perceber que os episódios de abuso ocorriam em segredo e sob a ameaça dos abusadores através de gestos ou palavras intimidadoras. As vítimas não entravam em confronto com eles e para chamar a atenção ou pedir auxílio usavam artimanhas como metáforas, risos e palavras irônicas, além de despistá-los com desculpas, escondendo-se, fingindo dormir ou fugindo para a rua. Conclusão: a centralidade subterrânea presente no abuso sexual desencadeou formas de resistência em oposição à opressão gerada pelo abusador em que, para aceitação da vida, as participantes desenvolveram diferentes mecanismos de sobrevivência, além de encontrar no trabalho voluntário, música e esporte, os respiradouros para aliviar o peso gerado pela ocultação do abuso.
ABSTRACT Objective: to understand the forms of resistance used by children and adolescent victims of sexual abuse in the everyday family routine. Method: qualitative research developed at an Assistance Center to Women in Situations of Violence in the semi-arid region of Pernambuco, with data collected between June and November of 2014 through interviews with nine women. The analysis process was based on notions of Comprehensive Sociology and Everyday Life, with data organized by affinity, interpreted and categorized. Results: the emerged categories: ritualization of sexual abuse of children and adolescents in the family routine: acceptance of destiny through passivity; Camouflage to survive the experience of sexual abuse: silence, astuteness and acting/pretending in order to escape abuse, Between hidden sexual abuse and The revelation of sexual abuse. It can be seen that episodes of abuse occurred in secret and under the threat of abusers through intimidating gestures or words. Victims did not confront them or call attention or ask for help, they used tricks like metaphors, laughs and ironic words, as well as ridiculing them with excuses, hiding, pretending to be asleep or fleeing to the street. Conclusion: the underground centrality present in sexual abuse triggered forms of resistance in opposition to the oppression generated by the abuser in which, in accepting that way of life, the participants developed different survival mechanisms, as well as participating in voluntary work, music and sports, these vents alleviate the burden of concealing the abuse.
RESUMEN Objetivo: aprender formas de resistencia utilizadas por niños y adolescentes en un cotidiano familiar de abuso sexual. Método: investigación cualitativa desarrollada en un Centro de Atendimiento a la Mujer en Situación de Violencia en el Semiárido de Pernambuco, con datos recolectados entre junio y noviembre de 2014, por medio de entrevista con nueve mujeres. El proceso de análisis se fundamentó en nociones de la Sociología Comprensiva y del Cotidiano, con datos organizados por afinidad, interpretados y categorizados. Resultados: emergieron las categorías: ritualización del abuso sexual de niños y adolescentes en el cotidiano familiar: aceptación de la vida por la pasividad; camuflajes para sobrevivir a lo vivido sobre el abuso sexual: silencio, astucia y doble juego, y, entre lo oculto y la revelación del abuso sexual. Puede percibirse que los episodios de abuso ocurrían en secreto y bajo la amenaza de los abusadores a través de gestos o palabras intimidantes. Las víctimas no entraban en confrontación con ellos y para llamar la atención o pedir auxilio usaban artimañas como metáforas, risas y palabras irónicas, además de despistarlos con disculpas, escondiéndose, fingiendo dormir o escapándose para la calle. Conclusión: la centralidad subterránea presente en el abuso sexual desencadenó formas de resistencia en oposición a la opresión generada por el abusador en que, para la aceptación de la vida, las participantes desarrollaron diferentes mecanismos de sobrevivencia, además de encontrar en el trabajo voluntario, música y deporte, los respiraderos para aliviar el peso generado por la ocultación del abuso.