Resumo: A consciência é sempre consciência de algo, geralmente algo diferente de si - mas que tipo de coisa é a consciência, considerada em si mesma? Paradoxo a pouco tempo temido de que uma ciência séria se entrega de bom grado aos filósofos, será que a consciência foi finalmente reduzida à condição de um objeto da ciência, dentre os demais? O desenvolvimento de uma nova “neurociência da consciência” por cerca de vinte anos é frequentemente apresentado como um avanço natural para uma ciência segura de seu sucesso na explicação de funções cognitivas baseadas nos mecanismos neurais do cérebro humano. Concebida, também, originalmente como uma “ciência da consciência”, mas com base na imanência do sujeito consciente à sua própria experiência vivida, a fenomenologia deve refrear seu sentido de paradoxo frente ao projeto da neurociência da consciência, para não ser acusada de irracionalismo? Retornando ao diálogo Changeux-Ricoeur, considero a crítica da objetivação fenomenológica da nossa experiência de consciência com base em mecanismos internos ao cérebro, e examino o exemplo representativo da teoria neuronal de Changeux e Dehaene et al., para avaliar até que ponto a crítica fenomenológica permanece relevante.
Résumé: La conscience est toujours conscience de quelque chose, généralement une chose autre qu’elle-même - mais quelle sorte de chose est donc la conscience, considérée en et pour elle-même? Naguère redoutable paradoxe qu’une science sérieuse abandonnait volontiers aux philosophes, la conscience a-t-elle été ramenée finalement à la condition d’un objet de science parmi les autres? Le développement d’une nouvelle «neuroscience de la conscience» depuis une vingtaine d’années est souvent présenté comme une avancée naturelle pour une science forte de son succès dans l’explication des fonctions cognitives sur la base des mécanismes neuronaux du cerveau humain. Conçue, elle aussi, originairement, comme «science de la conscience», mais sur la base de l’immanence du sujet conscient à sa propre expérience vécue, la phénoménologie doit-elle réfréner son sens du paradoxe devant le projet de cette neuroscience de la conscience, pour ne pas être accusée d’irrationalisme? Faisant retour sur le dialogue Changeux-Ricœur, je relève les objections du phénoménologue à l’objectivation de notre expérience de la conscience sur la base de mécanismes corrélatifs dans le cerveau et j’examine sur l’exemple représentatif de la théorie neuronale de Changeux, Dehaene et al. dans quelle mesure cette critique phénoménologique garde une pertinence.