Resumo A transexualidade é uma experiência identitária que emerge como resposta inevitável a uma forma de organizar a vida social e, consequentemente, o cuidado em saúde com base na produção de sujeitos. Objetivamos compreender como um contexto identitário trans mobiliza, na articulação com família e serviço de saúde, performances identitárias. Realizamos uma etnografia com entrevista semiestruturada e observação participante em um ambulatório especializado no cuidado trans-específico no Sistema Único de Saúde (SUS), entre dezembro de 2017 e julho de 2018. Durante o estudo, destacou-se a história de Marilda, por seu caráter emblemático ao narrar a transição de “homem homossexual” para “travesti” e, atualmente, para “mulher trans”, em uma performance identitária que almeja o reconhecimento e o pertencimento familiar, bem como o acesso à saúde, à educação e a uma profissão distante da prostituição. Sua história permite compreender que as pessoas trans constroem significados diversos para suas vivências identitárias, com elementos que podem reiterar o binarismo e a heteronormatividade. Torna-se importante reconhecer, no âmbito da família e da saúde, que diferentes performances identitárias são possíveis e que seus sentidos poderão compor o cuidado integral em saúde de cada pessoa trans.
Abstract Transsexuality is an identity experience that emerges as an inevitable response to a way of organizing social life and, consequently, health care based on the production of subjects. We aim to understand how a certain trans identity context mobilizes identity performances, in articulation with family and health service. We performed an ethnography with a semi-structured interview and participant observation in a health service specialized in trans-specific care in the Brazilian National Health System (SUS), between December 2017 and July 2018. The story of Marilda was highlighted for being emblematic when narrating the transition from “homosexual man” to “transvestite” and, currently, to “trans woman,” in an identity performance that aims for family recognition and belonging, access to health, education, and a profession other than prostitution. Her story allows us to understand that trans people construct different meanings for their identity experiences, with elements that can reiterate binarism and heteronormativity. It is important to recognize, within the family and health context, that different identity performances are possible and that their senses may compose the integral health care of each trans person.